Se você se encontrar nas colinas sobre San Francisco, na California, e observar uma placa com um sinal que diz “TANKS”, siga-a. Irá ver-se entre pinheiros, numa estrada de terra, algumas vezes tendo vislumbres de monstros de aço pelas árvores. Então, numa clareira, você encontrará esses tanques.
Meia dúzia deles está espalhada por um enorme pátio de concreto. Ao redor desse pátio, estão três longos armazéns. Através das portas abertas, filas e filas de tanques podem ser vistas. Subindo um pouco a estrada está outro imenso armazém, que guarda um lançador de mísseis Scud e um impressionante canhão montado num caminhão. É a maior arma privada do mundo, grande o suficiente para disparar projéteis nucleares.
No meio disso tudo está um tanque musculoso com cano curto desenho abrupto. É certamente mais moderno se comparado aos pares ao seu redor, e é lindo – justamente como as coisas mortais devem ser. É um M551 Sheridan.
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M551 Sheridan. |
Dentro dos armazéns, filas de tanques estão ao seu alcance. Tão impressionantes, tão especiais, raros e valiosos, que parece estranho não serem nem um pouco frágeis. Em alguns minutos, você se vê subindo em suas blindagens.
Não há jeito certo ou errado de entrar num tanque. Pelo menos, é o que se percebe ao se esgueirar para dentro de um imaculadamente restaurado Panther alemão. Pode-se tentar muitas técnicas, nenhuma elegante, antes de perceber-se que o mais eficiente é um movimento híbrido de nadador saindo da piscina com um salmão saltando rio acima. Pula, estica, vira, vira, vira e então repete.
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PzKpfw V Panther. |
O Pantheré um gigante, fazendo um anão de seu vizinho russoT-34 e igualmente oprimindo um Shermanamericano ali perto. Tem cerca de 50 toneladas contra as 33 do Sherman. “E os alemães ainda o chamavam de tanque médio”, diz o colecionador Rob Collings. Algumas coisas nunca mudam.
Por dentro, o Panther é escuro e hostil. Cheira a fluído hidráulico. De alguma maneira, cinco homens iam lá dentro para colocá-lo em combate. Ao entrar num Sherman ou T-34, percebe-se que os Aliados estavam bem pior.
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M4 Sherman. |
Do alto do Panther, pode-se ver o mundo que o colecionadorJacques Littlefield construiu para si. Tanques, meia-lagartas, veículos de comando, limpa-minas – russos, britânicos, franceses, alemães e americanos – mais de 150 veículos, e a maioria parece estar em condições de rodar. É espetacular.
Não há ordem nisso tudo, e exatamente por isso este é o melhor tipo de coleção. Littlefield comprou e restaurou tudo o que ele gostava e tinha interesse. Não há regras ou normas sobre o que deve estar na coleção para fazê-la completa. Lançadores soviéticos Scud dividem espaço com meia-lagartas Citroen, apenas pelo fato de serem igualmente interessantes. Jacques Littlefield sabia disso, e era algo admirável dele.
Ele manteve tudo para si, oferecendo ocasionais passeios pelos gigantescos depósitos. Distribuídos numa ravina sobre a baía de San Francisco, só a vista já merece a visita. Littlefield morreu em 2009, e agora a espetacular coleção irá a leilão no próximo fim de semana, e será espalhada pelo mundo.
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Meia-lagarta alemão SdKfz 7. |
A Fundação Collings já conseguiu comprar algumas das peças mais interessantes; o Panther , o Sheridan e o T-34 serão levados para sua nova casa na costa leste americana. Você pode reconhecer o nome da icônica fundação por seu épico trabalho com bombardeiros históricos, que eles voam há anos. O importante trabalho de Jacques Littlefield estará em boas mãos.
E o resto dos fascinantes veículos que ele adquiriu? É isso que está à venda! Compre para si um belíssimo pequeno carregador universal blindado britânico Bren pelo preço de um Lexus. Ou junte uns amigos e compre um tanque de verdade – eles vão sair por preços baixos.
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Vista parcial da coleção Littlefield. |
Há um limpa-minas que é movido por não um, mas dois motores Rolls-Royce Meteor. É um motor Merlin fora de tom, imagine você. Imagine o som de dois P-51 Mustangs rodando lagartas ao invés de hélices. Ou, melhor ainda, imagine seus vizinhos escutando o som de dois P-51 rodando lagartas ao invés de hélices.
Vá e siga a plaquinha engraçada. Aproveite a vista. Veja um bocado de história. Sinta o cheiro das velhas engrenagens soviéticas, alemãs, britânicas e americanas. Vá e se divirta. Ou faça a coisa certa: compre um tanque pra você.
Fonte: Road & Track, 10 de julho de 2014.