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Nota de Falecimento: Rochus Misch

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Rochus Misch
(29/07/1917 - 05/09/2013)

Faleceu no último dia 5 de setembro em Berlim, Alemanha, de causas naturais aos 96 anos de idade, o segurança de Adolf Hitler e último sobrevivente do Führerbunker, SS-Oberscharführer Rochus Misch.

Nascido em Alt Schalkowitz, na Silésia, seu pai morreu em combate na Primeira Guerra, antes do nascimento do filho. Misch ficou órfão de mãe aos 2 anos de idade e passou a ser criado pelos avós. Após terminar os estudos, trabalhou como pintor e ilustrador, e aos 20 anos de idade, alistou-se na SS-Verfügungstruppe (SS-VT, precursora da Waffen-SS). Participou das anexações da Áustria e dos Sudetos, entrando em combate logo no primeiro dia da Segunda Guerra Mundial.

Em setembro de 1939, a SS-VT foi anexada às tropas do exército e acabou sendo empregada contra as forças polonesas cercadas dentro da Fortaleza de Modlin. Os poloneses resistiram por vários dias aos repetidos ataques alemães, e uma tentativa de conseguir a rendição foi feita, sendo Misch escolhido para negociar, visto que falava polonês. Durante a conversa, ele acabou recebendo um tiro pelas costas que perfurou-lhe o pulmão, sendo recolhido ferido e levado a um hospital. Seu comandante de companhia, ao saber que Misch era o último representante de sua família, resolveu recomendá-lo para o Führerbegleitkommando (SS-FBK), a unidade de escolta permanente de Hitler, por ser um serviço longe da linha de frente. Dessa forma, Misch foi transferido para a 1ª Divisão Leibstandarte-SS Adolf Hitler (LSSAH).

Apresentando-se para serviço em maio de 1940, Misch passou a trabalhar como guarda-costas, mensageiro e telefonista de Hitler, constantemente presente em suas viagens, no quartel-general na Prússia Oriental, no Berghof e na Chancelaria do Reich em Berlim. Misch considerava Hitler "um ótimo chefe; trabalhei com ele por cinco anos, e éramos as pessoas mais próximas dele". Quando casou-se em 1942, Hitler enviou-lhe de presente uma caixa de champagnes franceses. Em 20 de julho de 1944, durante a tentativa de assassinato contra Hitler, Misch estava de folga em Berlim, e testemunhou a intensa atividade de tropas pró-golpe e a reação do Major Otto Ernst Remer para sufocar a tentativa. À medida em que a guerra se deteriorava, as viagens de Hitler diminuíam, e em janeiro de 1945 ele se recolheu ao bunker anexado à Chancelaria, sendo acompanhado por Misch e o restante de seu séquito. Dentro do bunker, ele e o colega Johannes Hentschel dividiram tarefas: "Hentschel era o responsável pelas luzes, ar e água, e eu operava os telefones - não havia mais ninguém. Quando alguém descia lá embaixo, não podíamos nem oferecer uma cadeira para sentar-se, pois era tudo muito apertado".

Quando o cerco soviético fechou-se à capital no final de abril, Misch testemunhou os últimos e desesperados momentos da elite do Terceiro Reich, com generais e outros líderes em constante entrada e saída do recinto, em busca de uma rota de fuga de Berlim. Na tarde de 30 de abril, Misch foi um dos primeiros a ver os corpos de Hitler e Eva Braun pouco após o casal suicidar-se em seu quarto privativo. Ele viu também os corpos dos seis filhos de Josef Goebbels, envenenados pela mãe, Magda, pouco antes do próprio casal também suicidar-se. Misch deixou o bunker em 2 de maio, mas foi capturado por soldados soviéticos pouco depois. Levado à prisão de Butirka, em Moscou, ele foi torturado pelo NKVD, que buscava informações sobre o "verdadeiro paradeiro de Hitler". Misch passou oito anos em cativeiro, sendo libertado em 1953.

Após sua libertação, ele trabalhou numa variedade de empregos, desde guarda-costas até motorista, até que conseguiu comprar uma pequena loja de tintas, a qual gerenciou com sucesso até sua aposentadoria. Classificado como um homem simples que foi jogado no centro de um marcante processo histórico, Misch raramente era foco da imprensa até 2003, quando o último ajudante de Hitler, Otto Günsche, faleceu. A partir de então, Misch era a última pessoa viva a ter trabalhando efetivamente junto ao Führer, e tornou-se protagonista de diversos documentários, sendo também consultor histórico do roteirista Christopher McQuarrie, do filme "Operação Valquíria", de 2008.

Já viúvo, Misch lançou sua autobiografia "Der Letzte Zeuge", em 2008. Uma entrevista feita com ele pelo jornalista francês Nicolas Bourcier em 2004 foi publicada no Brasil com o título "Eu fui guarda-costas de Hitler". Com a morte de Siegfried Knappe em 2008, ele se tornou o último sobrevivente do Führerbunker, automaticamente fazendo dele uma personalidade. Misch recebia imensa quantidade de cartas de todo o mundo, fato que levou-o a anunciar que não mais responderia as correspondências a partir de 2010, dada sua idade avançada e o fato de morar sozinho.

Desde 2012 sua saúde decaiu sensivelmente. Em agosto de 2013 ele sofreu um ataque cardíaco que fragilizou ainda mais o seu quadro, levando-o ao falecimento num hospital de Berlim. Com sua morte, fecha-se o capítulo histórico do bunker de Hitler nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial.

Em outubro de 2011, acompanhado dos amigos Gilberto Ziebarth e Roberto Soares, visitei Rochus Misch em Berlim. Ele nos recebeu em sua sala de estar, conversou um pouco conosco e autografou nossos livros. Misch mostrou-se surpreso em receber brasileiros em sua casa, mas disse que gente do mundo todo ia vê-lo - os últimos haviam sido sul-coreanos. Sorriu bastante e contou piadas de futebol, despedindo-se em seguida. Nos sentimos sortudos por ter tido a chance de conhecer um personagem que testemunhou a história sendo feita.

Descanse em paz.

Com Rochus Misch em Berlim, 10 de outubro de 2011.



No dia de seu casamento, com a esposa Gerda, 1942.

Misch em casa, com seus arquivos.

Rochus Misch.


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