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Nota de Falecimento: Barrie Davis

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Barrie Davis
(22/12/1923 - 19/08/2014)

Faleceu no último dia 19 de agosto em Zebulon, Carolina do Norte, EUA, de causas naturais aos 90 anos de idade, o ás norte-americano Coronel Barrie S. Davis.

Nascido no Condado de Lenoir, filho de um sacerdote protestante, Davis concluiu seu ensino médio em 1940, ingressando em seguida na Universidade de Wake Forest. Contudo, após os Estados Unidos entrarem na Segunda Guerra Mundial, ele recebeu a notícia que seu irmão mais velho havia morrido em combate contra os japoneses nas Filipinas. Davis abandonou os estudos e ingressou no USAAF em junho de 1942, completando o treinamento em agosto de 1943 e sendo comissionado 2º Tenente.

Imediatamente embarcado para o Mediterrâneo, Davis fez suas primeiras missões operacionais no Comando de Transporte, transferindo aeronaves da África para a Itália. Contudo, em maio de 1944 ele foi designado para o 317º Esquadrão do 325º Grupo de Caça, os famosos "Checkertails". A unidade, que até então voava o P-47 Thunderbolt, tornou-se famosa por utilizar na cauda uma pintura quadriculada em amarelo e preto, e produziu numerosos ases durante a guerra. Após apenas sete missões a bordo do P-47, os Checkertails fizeram a conversão para o P-51 Mustang, e Davis teve que se adaptar ao novo caça. O novo grande alcance permitido pelo Mustang significava que seu grupo agora voaria missões sobre os Bálcãs, sul da Alemanha, Romênia, Iugoslávia e Hungria.

No dia 6 de junho de 1944, enquanto os Aliados desembarcavam nas praias da Normandia, os Checkertails protagonizariam a primeira das "shuttle missions" - missões de caça com origem na Itália e com pouso dentro do território soviético. Escoltando uma formação de B-17s contra um alvo na Romênia, Davis e seus colegas foram interceptados por Messerschmitt Me 109s romenos do 9º Grupo de Caça (Grupul 9 Vânătoare). Após o combate, no qual deu proteção aos bombardeiros, Davis perdeu seu ala de vista. Alguns minutos depois, divisou a silhueta de um caça aproximando-se às 5h, por baixo, e pensou tratar-se de seu colega. Na verdade, tratava-se do Me 109 do Tenente Ion Dobran, que disparou uma rajada certeira contra o cockpit e deixou Davis inconsciente. Ao recuperar a consciência momentos depois, ele percebeu que seu caça voava estabilizado, mas totalmente danificado pelo fogo de Dobran. O propulsor, as asas, o leme e o profundor estavam em péssimo estado - além do canopy, que havia sido completamente arrancado. Com muita dificuldade, ele conseguiu recuperar o controle da aeronave e após um longo voo pousou na Ucrânia, recebendo tratamento para seus ferimentos.

Ao recuperar-se, Davis retornou à Itália e logo depois abriu seu escore. O longo treinamento e o período operacional prévio à sua integração aos Checkertails fez sua parte e ele logo mostrou-se um exímio piloto de caça. Em apenas dois meses de combate ele já havia derrubado 4 aeronaves inimigas quando, em 22 de agosto de 1944, Davis teve seu grande dia. Após concluir sua escolta de um grupo de B-17s retornando da Alemanha pesadamente danificados, ele recebeu pelo rádio o pedido de ajuda do comandante da formação, que estava sendo atacado por um grupo de Me 109s e Fw 190s sobre os Alpes. Davis e seus colegas fizeram meia-volta e imediatamente foram socorrer os quadrimotores. Chegando lá, na mesma altitude dos Boeings, Davis percebeu que não havia tempo para ganhar altitude para o combate, e decidiu partir para cima da Luftwaffe de qualquer maneira. Os poucos Mustangs se jogaram contra os mais numerosos alemães, e no combate que se seguiu Davis derrubou dois caças inimigos. Seus colegas derrubaram outros dois, e os alemães interromperam o ataque - nenhum dos bombardeiros foi derrubado. Por essa ação ele foi agraciado com a Silver Star.

Em novembro de 1944, após completar 70 missões de combate, Barrie Davis foi enviado de volta para os Estados Unidos, onde tornou-se instrutor de caça. Ele terminou a guerra com 6 vitórias aéreas confirmadas, outras 6 aeronaves destruídas em solo, bem como 12 locomotivas. Davis passou para a Reserva em 15 de outubro de 1945, e em 1949 transferiu-se para a Guarda Nacional da Carolina do Norte. Lá, comandou uma bateria antiaérea, capacitou-se como piloto de helicóptero, comandou a 30ª Divisão de Artilharia Antiaérea e, por fim, tornou-se comandante da Academia Militar da Carolina do Norte, na patente de Coronel. Ele aposentou-se em março de 1978, após 29 anos de serviço na Guarda Nacional.

Como civil, Davis tornou-se editor de revistas e jornais, e abriu sua própria gráfica. Membro do Rotary Club desde 1946, foi um dos mais destacados membros de sua comunidade. Em 2009 um pesquisador americano descobriu que o piloto romeno que havia alvejado o Mustang de Davis em 6 de junho de 1944 havia sido Ion Dobran. Através da Embaixada da Romênia em Washington, foi organizado com a Força Aérea Romena um encontro dos dois veteranos, que foi realizado em Bucareste em janeiro de 2010.

Ele deixa esposa, 7 filhos, 11 netos e 10 bisnetos.

Em outubro de 2009 eu visitei Ion Dobran em Bucareste, e durante nossa conversa ele me entregou uma cópia de sua correspondência com Barrie Davis. Ao voltar para casa, entrei em contato com Barrie, que mostrou-se muito curioso com minha visita a Bucareste, visto que a sua já estava também agendada para o próximo mês de janeiro. Passei a ele algumas informações sobre Dobran, bem como fotos da minha visita, pois nunca havia visto-o. Mantivemos contato frequente até sua viagem, e depois ele me contou como tudo havia sido maravilhoso. Foi uma honra ter participado dessa pequena história de reconciliação.

Descanse em paz Barrie, você fará falta!

Tenente Davis e seu P-51, com as marcações de 6 vitórias aéreas.

"Honey Bee", o P-51D Mustang de Barrie Davis com o 317º Esquadrão dos Checkertails.

Coronel Barrie Davis, Guarda Nacional da Carolina do Norte.

Ion Dobran e Barrie Davis, Bucareste, Romênia, janeiro de 2010.



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