Estive no 1º. dia do mês de outubro na cidade de
Maceió - AL, visitando o veterano da Segunda Guerra Mundial, Major da USAAF
John William Buyers. Este piloto do exército norte-americano, nascido em Juiz de Fora (filho de norte-americanos), atuou junto ao
1º Grupo de Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira e a 12ª Força Aérea como elemento de ligação. Buyers, por ser brasileiro e por conhecer nosso idioma, era o elo de ligação entre o comandos Aliado e do Grupo de Caça brasileiro.
Depois de alguns telefonemas para a casa do Major, tratei com sua esposa,
Dona Iracema, de que iríamos visitá-los na segunda-feira à tarde, após o almoço. Para chegar até a residência do casal, tivemos que na verdade “sair” de Maceió, pois, eles vivem na vila anexa a uma usina de açúcar, a Usina Utinga, em Rio Largo.
Nesta localidade, que fica próxima ao aeroporto Zumbi dos Palmares, voltamos no tempo uns bons 70 anos, passando por construções muito antigas que datam do início do século XX – inclusive por uma estação de trens muito pequena no interior da vila. Naquela época áurea dos Barões do Açúcar, o transporte da cana de açúcar até a usina era feito por trens, disse-me o Major.
Em uma casa muito simples, no “meio do mato”, Buyers e Dona Iracema têm uma vida muito tranquila longe da capital alagoana. Fomos eu e minha família, recebidos na varanda da casa, que tem como vista ao longe algumas pequenas montanhas cheias de
árvores plantadas pelo próprio John, há mais de 50 anos. A senhora Buyers nos disse que o piso superior da casa foi desativado, pois a escada é muito perigosa para o veterano subir e descer; assim, toda a rotina da casa acontece no térreo. Inclusive o quarto do casal foi mudado para a antiga sala para facilitar as coisas.
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Major Buyers em seu escritório. |
John nos mostra sua casa e com orgulho uma fotografia ao lado de
Carmen Miranda, na qual ele da um belo abraço na atriz brasileira. Outro cantinho da casa para o qual ele chama a atenção é o local onde ele escolhe através de um catálogo internacional, os selos que irão compor sua coleção, que, diga-se de passagem, é um das maiores que já vi.
No andar superior, que ele insiste em subir, está o seu “escritório”, uma verdadeira bagunça, cheia de arquivos e papeis por todos os lados e uma parede com várias fotos de antes, durante e depois da guerra. Chamou-me a atenção uma imagem de
Nero Moura e ele ao vê-la diz em tom nostálgico: “
Este foi um grande amigo que tive!”
Depois de conhecermos a residência, voltamos à varanda da casa e conversamos sobre quase tudo, desde os
North-American AT-6 que ele e vários outros pilotos dos Estados Unidos e do Brasil trouxeram voando da América do Norte para o Brasil, até a plantação de cana de açúcar defronte a sua casa. Comentei com ele que havíamos passado por Recife para conhecer a
Fortaleza Voadora B-17 que fica exposta em frente à
Base Aérea do Recife. E ele diz que voou muito em B-17 e na verdade em todos os aviões da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos daquela época. O interessante foi que depois que o questionei sobre qual era sua aeronave preferida da época, ele disse que não tinha nenhuma e que
cada avião tinha um propósito.
Outra coisa muito curiosa sobre a vida de Buyers é que ele conheceu
Santos Dumont e também um dos irmãos Wright, Orville. O primeiro, ele encontrou em duas oportunidades distintas na cidade de Petrópolis, quando criança. Santos Dumont tocou sua cabeça e lhe disse: “
Mas que menino bonito, com este cabelo cacheado”. Já
Orville Wright, John teve a oportunidade de conhecer em uma feira de aviação nos EUA, ele nos disse: “
Eu andava pelo país atrás de aviões e em todas as feiras que eu podia ir eu ia, mesmo de carona”. Assim, ele, em um destes eventos pode contemplar o pioneiro da aviação com suas invenções.
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Ten.-Cel. Nero Moura e Capitão John Buyers na Itália. |
Sobre a guerra, fiz algumas poucas perguntas, sobre o apoio prestado pelo
1st Brazilian Fighting Squadronà
Força Expedicionária Brasileira no dia 21 de fevereiro de 1945, na sua última investida para a tomada de Monte Castelo. Neste momento relembrei ao Major as palavras do
Capitão Souza, que reside em Natal, e que não sabia expressar em palavras seu agradecimento ao apoio prestado pelo Grupo de Caça ao
1º Regimento de Infantaria quando o ataque estava para ser desencadeado. Buyers disse que o grupo brasileiro foi escolhido devido à facilidade de comunicação entre as duas forças que falavam o mesmo idioma.
Ainda sobre o Grupo de Caça, recordei uma passagem do livro do
Brigadeiro Rui Moreira Lima, na qual ele relata a “revolta” entre os pilotos em relação ao comandante do grupo. John, que foi colega de quarto de Nero Moura durante a guerra, disse que a grande preocupação do Tenente-Coronel era
preservar os jovens tenentes e seu excesso de coragem perante as missões. “
Nero Moura queria que todos voltassem para casa vivos!”, disse o veterano.
Minhas filhas Gabriela (8) e Ana (6) e minha esposa Patrícia se sentiram em casa. As pequenas brincaram e interagiram com John, que se mostrou um
bom avô como ele mesmo disse a elas. As duas, quando souberam que iríamos visitá-los, ficaram curiosas para conhecer o piloto de guerra. Esta visita foi muito sonhada por mim desde que soube que eles residiam em Maceió, que dista cerda de 260 km de Cajazeiras-PB, onde vivemos.
Em 8 janeiro de 1013, John Buyers completará seus
93 anos de idade e se tudo der certo, estarei lá junto com minha família para parabenizá-lo.
Eduardo Seyfert