Marinheiros britânicos que participaram dos perigosos comboios do Ártico para suprir a frente de combate soviética reclamam que seu governo não lhes permite aceitar honrarias oferecidas por Moscou.
O Ministério da Relações Exteriores do Reino Unido estima que 400 marinheiros britânicos não puderam aceitar a Medalha de Ushakov porque estariam prestes a receber uma comenda do governo britânico especificamente relacionada aos comboios, e também porque os eventos ocorreram há mais de cinco anos.
Winston Churchill disse que os comboios passaram pela “pior jornada no mundo” enquanto entregavam mais de 7.500 caças e 5.000 armas antitanque que ajudaram a União Soviética a enfrentar as forças de Hitler no front leste.
“Eu realmente estou triste com isso”, disse Reay Clarke, 89 anos, que serviu nos comboios. “Acho que é uma desgraça que não possamos simplesmente dizer sim aos russos e dizer-lhes para entregar as medalhas. Acho que estão sendo gentis e atenciosos ao lembrar do que fizemos por eles. Deveríamos simplesmente dizer ‘Muito obrigado!’”.
O Tenente-Comandante Roy Francis, 90 anos, que serviu a bordo do cruzador HMS Edinburgh quando este escoltou comboios até Murmansk em 1942, abriu uma petição junto ao Primeiro-Ministro para que as medalhas russas sejam aceitas.
Na viagem de volta, o cruzador foi afundado após sucessivos ataques alemães, quando carregava 4 toneladas de ouro como pagamento de Stalin. Dois oficiais e 56 marinheiros morreram.
Francis disse: “Além da ameaça dos submarinos, bombardeiros e navios de superfície alemães, o principal inimigo era o tremendo frio. Sei de navios que acumularam tanto gelo que viraram, afundando com toda a tripulação”.
Jacky Brookes, gerente do projeto do Museu do Comboio Ártico Russo, que deve ser aberto em Loch Ewe, no noroeste da Escócia, estima que 3.000 homensmorreram nas viagens. 85 navios mercantes e 16 navios de guerra foram perdidos.
O governo disse apreciar o gesto russo de reconhecer seus veteranos, mas disse que os mesmos já foram honrados com a medalha de campanha Estrela do Atlântico, uma comenda para serviços gerais no mar. Os marinheiros sobreviventes dos comboios também receberam um broche de lapela chamado Insígnia do Ártico em 2006. O Primeiro-Ministro recentemente anunciou a criação de uma medalha específica para reconhecer a bravura dos marinheiros dos comboios.
“Estou feliz que este governo finalmente decidiu dar-nos uma medalha de campanha. Mas me disseram que o processo para concessão pode levar meses – então espero ainda estar aqui para ver toda essa burocracia ser concluída. Nenhum de nós está ficando mais jovem”, disse Francis.
Fonte: The Telegraph, 14 de janeiro de 2013.