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Stalingrad (2013): você TEM que ver isso!!

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Sabe aquele filme que você secretamente sempre quis que fosse filmado? Aquela super-produção de guerra, que mostrasse a Segunda Guerra Mundial em sua maior intensidade – e que, pelo menos pra mim, escapasse da mania hollywoodiana (que já me cansou) de somente representar batalhas americanas?

Pois se junte a mim na minha empolgação e agradeça à indústria russa de cinema, que vem a cada ano se ombreando com a americana. E desta vez pegaram pesado: o primeiro filme produzido na Rússia totalmente em 3D, para IMAX, e com um baita orçamento de 30 milhões de dólares!

E tudo isso para representar a épica Batalha de Stalingrado, com um visual estupendo, que lembra bastante a estética do Zack Snyder, diretor de “300”, “Watchmen” e “Sucker Punch”.

O diretor Fedor Bondarchuk fez uso de um gigantesco conjunto cenográfico construído perto de São Petersburgo para representar a destruída Stalingrado no calor da batalha em fins de 1942. A produção é falada em russo, mas os diálogos dos soldados alemães serão mantidos em sua língua original, com uso de legendas (nada como um toque de realismo!).

A história de Stalingrad (2013)– ainda sem título nacional – gira em torno de seis soldados soviéticos que resistem na margem ocidental do Volga no auge da ofensiva alemã na cidade, protegendo a casa de uma garotinha. A inspiração vem claramente da lendária Casa de Pavlov.

O filme encontra-se atualmente em pós-produção, e sua estreia está prevista para outubro deste ano. Darei mais novidades assim que forem surgindo! Por enquanto, apenas confiram este indescritível trailer:


Meus agradecimentos ao leitor Jônatas Santos pela dica!

Nota de Falecimento: Alfredo Klas

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Alfredo Klas
(30/09/1915 - 12/05/2103)

Faleceu no último dia 12 de maio em Ponta Grossa, Paraná, de causas naturais aos 97 anos de idade, o veterano da FEB Major Alfredo Bertoldo Klas.

Nascido na Fazenda Santa Carlota, zona rural do município paranaense de Palmeira, Klas recebeu educação básica em casa, com professores contratados pelos próprios pais. Em seguida, mudou-se para Curitiba para cursar o ensino médio, destacando-se pelo desempenho e disciplina. Em 1938, graduou-se na Faculdade Estadual de Direito do Paraná.

Após graduar-se, Klas ingressou no Curso Preparatório de Oficiais da Reserva em Curitiba, concluindo-o e sendo declarado Aspirante em 1941. Promovido a 2º Tenente pouco depois, estagiou no 15º Batalhão de Caçadores e em seguida no 20º Regimento de Infantaria. Em outubro de 1943, Klas foi promovido a 1º Tenente, recebendo imediatamente ordens de transferir-se o 1º Batalhão de Fronteira em Foz do Iguaçu. Contudo, pouco antes de sua partida, recebeu um comunicado dizendo que sua transferência estava cancelada, sendo, ao invés, enviado para o 11º Regimento de Infantaria em São João Del Rei-MG, uma das unidades escolhidas para compor a 1ª Divisão de Infantaria da Força Expedicionária Brasileira.

Klas permaneceu em Minas Gerais até março de 1944, quando foi transferido para treinamento com o restante da divisão na Vila Militar do Rio de Janeiro, sendo lá enquadrado na 1ª Companhia do I Batalhão, 11º RI. Uma semana antes do embarque para a Itália, que se deu em 22 de setembro, Klas assumiu o posto de sub-comandante da 1ª Companhia, já que o antigo ocupante do posto deu baixa por problemas de saúde. Desta maneira, o Tenente Alfredo Klas chegou à Itália no começo de outubro, sendo responsável por três pelotões de infantaria. Após um rápido período de aclimatação com vestimentas, armas e equipamentos, o 11º RI foi lançado na linha de frente do Monte Castelo em fins de novembro. Em 12 de dezembro, os ainda inexperientes soldados foram ordenados a atacar as posições alemãs no Castelo, sofrendo pesadas baixas. O inverno que se abateu em seguida paralisou as operações ofensivas até a primavera seguinte, mas em 25 de dezembro, numa inspeção da linha de frente, ele foi atingido no capacete por um tiro de fuzil alemão, que deixou uma profunda marca no aço. O choque deixou-lhe com os movimentos dos braços temporariamente comprometidos.

Monte Castelo finalmente caiu em 21 de fevereiro de 1945, e a partir de então o 11º RI manteve-se na ofensiva ininterruptamente, chegando até Montese em 14 de abril. Nesta cidade, último bastião defensivo alemão nos Apeninos, o 11º RI foi empregado de forma decisiva, conquistando uma difícil vitória contra o inimigo, e deixando-o exposto no Vale do Pó. A companhia do Tenente Klas ocupou o importante centro industrial de Turim no fim da campanha italiana. A vitória final no Teatro de Operações foi alcançada em 2 de maio, totalizando para Klas cinco meses consecutivos na linha de frente. Ele foi condecorado com a Cruz de Combate de 1ª Classe e a Bronze Star norte-americana.

Após retornar ao Brasil e ser promovido a Capitão, ele permaneceu no Exército por mais um ano, mas deu baixa em 1946 para perseguir uma carreira civil. Eleito prefeito da cidade de Palmeira em 1950, mais tarde tornou-se professor na Universidade Estadual de Ponta Grossa. Em 1956 decidiu escrever um livro sobre os malfadados ataques da FEB contra o Monte Castelo no fim de 1944: "A verdade sobre Guanella: um drama da FEB". O livro, contudo, teve seu conteúdo censurado e somente foi publicado em 2002. Em 2005, Klas lançou seu segundo livro: "A verdade sobre Abetaia: drama de sangue e dor no 4º ataque da FEB ao Monte Castelo".

Músico, Alfredo Klas aprendeu a tocar violino ainda na infância, e foi membro da Orquestra Sinfônica de Ponta Grossa. Foi também empresário do setor de embalagens. Era um dos últimos oficiais da FEB ainda vivos. Viúvo, ele deixa dois filhos, nove netos, 14 bisnetos e cinco trinetos.

Major Klas com todas as suas medalhas.

Alfredo Klas em sua residência.

Começa a recuperação do último Dornier Do 17

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Um raro bombardeiro alemão da Segunda Guerra Mundial será içado do Canal da Mancha, onde ficou nas últimas sete décadas.

O resgate do único Dornier Do 17sobrevivente no mundo todo começará em Goodwin Sands, na costa de Kent, e será a maior operação de seu tipo já realizada em águas britânicas.

A aeronave foi inicialmente localizada por mergulhadores em 2008, a 15 metros de profundidade. Escaneamentos por sonar confirmaram de que se tratava de um Dornier do 17Z W/n 1160, que foi derrubado durante a Batalha da Inglaterra.

Dois dos seus quatro tripulantes morreram na queda no mar, mas os outros dois foram capturados e enviados para campos de prisioneiros.

O bombardeiro, descrito como “em excelentes condições”, foi um dos “lápis voadores” da Luftwaffe – apelido que ganhou devido à sua fuselagem afilada. Hoje, está coberto de coral, crustáceos e outra vida marinha, mas sua estrutura está majoritariamente intacta.

Erguer a aeronave do fundo do mar será um trabalho de três semanasusando tecnologia de ponta, e dependerá das marés e condições meteorológicas.

Uma moldura será construída ao redor da aeronave submersa, que será lentamente erguida e colocada sobre uma plataforma flutuante. Peter Dye, diretor-geral do Museu da RAF, disse: “A descoberta e recuperação do Dornier é de importância nacional e internacional. A aeronave é um sobrevivente único e sem precedentes da Batalha da Inglaterra e da Blitz. Irá proporcionar uma exibição evocativa e comovente que permitirá ao museu contar uma história mais completa da Batalha e dos sacrifícios feitos pelos jovens de ambas as forças aéreas e de muitas nações”.

Embarcação que realizará o resgate é preparada no porto.

Quando o Dornier for recuperado, será preparado para exibição no Museu da RAF em Hendon, ao norte de Londres.

O trabalho de restauração acontecerá no centro de conservação do museu em Cosford, Shropshire, onde a aeronave será imersa em dois túneis de hidratação e tratada com ácido cítrico.

O ministro da cultura, Ed Vaizey, disse: “Hoje marcamos o começo de um excitante projeto que erguerá o último Dornier Do 17 sobrevivente do Canal da Mancha. Estou muito contente que forças foram unidas para realizar este projeto e sei será uma tremenda adição ao acervo do museu, que servirá para educar e ensinar todos os visitantes”.

Fonte: Daily Mail, 3 de maio de 2013.

Nota de Falecimento: Vernon McGarity

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Vernon McGarity
(01/12/1921 - 21/05/2013)

Faleceu no último dia 21 de maio em Bartlett, Tennessee, EUA, de causas naturais aos 91 anos de idade, o ganhador da Medalha de Honra do Congresso, Tenente-Coronel Vernon McGarity.

Nascido em Right, Tennessee, McGarity começou a trabalhar cedo, ingressando no Civilian Conservation Corps (o equivalente americano do Reichsarbeitsdienst alemão) durante a Grande Depressão. Pouco antes de completar 22 anos de idade, e já casado com sua namorada Ethelene, ele se alistou no Exército em 24 de novembro de 1942.

Enviado para a Europa em 1944, ele foi alocado na Companhia L do 393º Regimento da 99ª Divisão de Infantaria - unidade que integrava o 1º Exército, do General Courtney Hodges. Após o longo período de avanço ininterrupto até as proximidades da fronteira alemã no fim de 1944, o Sargento McGarity e seu pequeno grupamento estavam estacionados nas redondezas de Krinkelt, na Bélgica, bem cedo na manhã de 16 de dezembro de 1944.

Naquele dia, os alemães desencadearam a Operação Vigília do Reno (Unternehmen Wacht am Rhein), um esforço para cortar os exércitos Aliados na Bélgica e atingir o porto de Antuérpia - e que ficaria conhecida posteriormente como Batalha das Ardenas.

Uma poderosa barragem de artilharia sobre as posições da 99ª Divisão começou cedo na manhã do dia 16, e McGarity foi ferido por estilhaços. Recebendo os primeiros-socorros num posto médico, ele recusou-se a ser evacuado e voltou para seus soldados. Seu reduzido grupamento resistia firmemente ao ataque alemão, mesmo já com suas comunicações cortadas. Em meio ao fogo cruzado, McGarity foi até uma posição avançada resgatar um soldado ferido. Quando mais tarde os alemães enviaram tanques junto com a infantaria, ele tomou uma bazuca e, sozinho, correu até uma posição favorável, disparando e destruindo a esteira do primeiro blindado, imobilizando-o. O fogo provido por seus soldados forçaram os granadeiros alemães para trás, assim como os três tanques restantes. Sem descanso, McGarity resgatou outro soldado ferido e imediatamente atacou um canhão inimigo trazido para limpar a resistência americana. Com sua munição acabando, ele se lembrou de um depósito escondido 100 metros à frente, na direção dos alemães, e não hesitou em correr por entre as rajadas de metralhadora para recuperar os preciosos projéteis.

Neste momento os alemães conseguiram montar uma metralhadora no flanco traseiro do pequeno grupamento americano, cortando-lhe a rota de fuga. Ao perceber a ameaça, McGarity instantaneamente partiu para cima do ninho da arma, matando ou ferindo com tiros de fuzil todos os soldados que a manejavam. Somente quando toda a munição americana acabou foi que os alemães finalmente capturaram McGarity e seus soldados. Ele passou o restante da guerra como prisioneiro, sendo libertado em maio de 1945.

Por sua espetacular demonstração de liderança sob fogo e ataques pesados, mantendo sua posição até o último momento, o Sargento Vernon McGarity foi condecorado com a Medalha de Honra do Congresso, que recebeu das mãos do Presidente Harry Truman no Salão Oval da Casa Branca em outubro de 1945.

Após a guerra, ele serviu na Guarda Nacional do Tennessee por 28 anos, aposentando-se com a patente de Tenente-Coronel. Trabalhou também por 35 anos na Associação de Veteranos local, auxiliando antigos soldados no hospital de Memphis.

Viúvo desde 1998, McGarity deixa um filho.

Cerimônia de condecoração com a Medalha de Honra, ao lado do Presidente Harry Truman (esq). Washington DC, outubro de 1945.

Vernon McGarity fotografado numa homenagem da Guarda Nacional a ele em 1989.

Churchill e Stalin beberam todas em Moscou

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Dois anos antes de Yalta, Winston Churchill e Josef Stalinse encontraram para uma reunião noturna. Sua missão? Beber sem parar, de acordo com documentos recém-revelados pelos Arquivos Nacionais Britânicos.

A noite de bebedeira de Churchill e Stalin aconteceu em agosto de 1942 na capital soviética. Os líderes tinham anteriormente discutido planos para a invasão do Norte da África e um possível “segundo front” na Europa, mas a reunião terminou tensa com Churchill sugerindo que a invasão poderia não acontecer.

Determinado a não deixar o gosto amargo no ar, Churchill então requisitou uma reunião de fim de noite no quarto do líder soviético.

E aqui está o que aconteceu, de acordo com Sir Alec Cadogan, um diplomata presente na ocasião:

Lá eu encontrei Winston e Stalin – e Molotov, que tinha se juntado a eles – sentados ao redor de uma mesa bastante cheia: comida de todo tipo, coroada por um leitão assado, e inúmeras garrafas. O que Stalin me deu para beber pareceu bastante forte. Winston, que já estava reclamando de pequenas dores de cabeça, espertamente se ateve a um comparativamente leve vinho tinto do Cáucaso. Todo mundo parecia feliz como uma criança”.

De acordo com Cadogan, as festividades duraram até as três horas da manhã.

Historiadores acreditam que o relacionamento entre a Grã-Bretanha, os Estados Unidos e a União Soviética foi fundamental para a derrota da Alemanha. Havia bastante tensão entre os “Três Grandes”, entretanto.

Desde 1941, quando os EUA entraram na guerra, Stalin e seus assessores pressionaram os Aliados por um segundo front na Europa, para aliviar a pressão sobre a URSS. O Exército Vermelho havia sofrido pesadas perdas durante a guerra, e em 1942 o Ministro do Exterior Molotov chegou a admitir que a Alemanha poderia vencer se os soviéticos não recebessem mais ajuda.

Fonte: Huffington Post, 23 de maio de 2013.

Dornier é finalmente resgatado do Canal da Mancha

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Uma equipe inglesa resgatou com sucesso nesta segunda-feira, 10 de junho, um bombardeiro alemão que havia sido abatido sobre o Canal da Mancha durante a Batalha da Inglaterra.

A aeronave, apelidada de “lápis voador” por causa de sua estreita fuselagem, caiu na costa do condado de Kent, do sudeste da Inglaterra, mais de 70 anos atrás.

Os enferrujados e corroídos destroços foram erguidos das profundezas do canal com o auxílio de cabos, e acredita-se que seja o único exemplar do bombardeiro Dornier Do 17 existente no mundo.

Foi erguido e agora está seguro na balsa, em uma só peça”, disse o porta-voz do Museu da RAF, Ajay Srivastava. O bombardeiro será levado ao porto agora.

Alguns fragmentos da aeronave caíram durante o processo de resgate, mas foi dito que mergulhadores os recuperarão mais tarde. A equipe vinha tentando resgatar a aeronave a semanas, mas todo o processo se atrasou devido aos fortes ventos e mar revolto.

Os destroços já acomodados na balsa.

Em 2008, mergulhadores descobriram o Dornier submerso sob 15 metros de água. Especialistas no bombardeiro dizem que está incrivelmente preservado apesar da passagem do tempo.

O museu agora planeja conservar a relíquia e colocá-la em exibição ao lado de um Hawker Hurricane também derrubado durante a Batalha da Inglaterra.

Fonte: The Province, 10 de junho de 2013.

Nota de Falecimento: Tullio Sturchio

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Tullio Sturchio
(24/05/1909 - 04/06/2013)

Faleceu no último dia 4 de junho em Roma, Itália, de causas naturais aos 104 anos de idade, o condecorado comandante Bersagliere Generale di Corpo d'Armata Tullio Sturchio.

Nascido em Roma, Sturchio ingressou na Academia Militar de Modena no fim dos anos 1920 e foi comissionado Sottotenente Bersagliere (infantaria leve de alta mobilidade), sendo em seguida feito instrutor na Escola Militar de Roma. Sendo reconhecido como um promissor jovem oficial, ele rapidamente ganhou o respeito de seus superiores. Em 1939, foi feito ajudante do novo comandante do 8º Regimento Bersagliere, Colonello Ugo Montemurro - sendo esta unidade anexada à 132ª Divisão Blindada "Ariete".

Em 10 de junho de 1940, a Ariete foi colocada na ordem de batalha da curta campanha contra a França, mas não chegou a entrar em combate. Contudo, os eventos que se desenrolaram no Norte da África em dezembro daquele ano forçaram a transferência da unidade para lá. Os ingleses haviam montado uma ofensiva blindada que varrera as posições italianas em Sidi Barrani, no Egito, conquistando toda a Cirenaica até o fim de janeiro de 1941. Em 24 de janeiro, a Ariete desembarcava em Trípoli, e com ela, o 8º Regimento Bersagliere. A esta altura também chegavam ao local os primeiros elementos do Afrika Korps, comandado pelo General Erwin Rommel.

Imediatamente iniciando uma contra-ofensiva, Rommel empregou o 8º Bersagliere contra as posições da 2ª Divisão Blindada britânica em El Mechilli em 8 de abril. Para surpreender os britânicos, o Capitano Sturchio liderou a coluna que penetrou rapidamente pelo deserto e cercou-os antes que pudessem escapar para leste, capturando três generais ingleses, incluindo o Major-General Michael Gambier-Perry, comandante da 2ª Divisão Blindada. Por esta ação, Sturchio foi agraciado com sua primeira Medaglie d'Argento al Valor Militare.

Sua segunda Medaglie d'Argento foi conseguida por mérito pouco mais de um mês depois, ao coordenar os ataques do 8º Regimento que reconquistaram o Forte Capuzzo, na fronteira da Líbia com o Egito. Em 18 de novembro de 1941, os ingleses lançaram a Operação Crusader, sua contra-ofensiva para afastar o Eixo do Egito. A XXII Brigada Blindada britânica atacou com uma centena de tanques as posições da Ariete em Bir el Gobi ao sul de Tobruk, com poderosa cobertura aérea. Contra os tanques ingleses, apenas os Bersaglieri do 8º Regimento. Sturchio ordenou a construção de trincheiras rasas, nas quais as parcas armas antitanques da unidade foram montadas. Um vento de superfície levantou uma cortina de poeira, que dificultou a visão dos tanquistas ingleses, fazendo com que chegassem próximo o suficiente para que os Bersaglieri pudessem fazer uso de granadas de mão. Quando a vanguarda blindada ultrapassou as posições italianas, a confusão se instaurou no comando inglês. Os blindados se viram em meio à um ataque de soldados italianos por todas as direções, lançando-lhes granadas e projéteis antitanque. Fazendo a conexão entre os grupos isolados dos Bersaglieri estava o Capitano Tullio Sturchio, corajosamente manobrando em meio da ação com sua motocicleta. No fim de seis horas de combate, 50 tanques ingleses jaziam no campo de batalha, com seu ataque completamente detido. Esta ação deu a Sturchio sua terceira Medaglie d'Argento e a Cruz de Ferro de 2ª Classe, conferida-lhe pessoalmente por Rommel.

No começo de 1942, Rommel lançou sua segunda ofensiva, desta vez levando o Eixo até o coração do Egito, em El Alamein. Contudo, ao chegar lá, suas forças já estavam bastante desgastadas, e em outubro daquele ano o 8º Exército inglês lançou um pesado contra-ataque, que virtualmente destruiu a Ariete. O 8º Regimento recuou para a Líbia, onde foi anexado à 136ª Divisão Motorizada "Giovani Fascisti". Com o recuo do Eixo para a Tunísia, o Maggiore Sturchio foi evacuado para a Itália e enviado para o front russo no começo de 1943. Após o Armistício de 8 de setembro daquele ano, ele foi detido pelos alemães, permanecendo prisioneiro até o fim da guerra.

Em 1950, já Tenente-Colonello, Sturchio foi o artífice por trás da reconstituição do 1º Regimento Bersagliere em Roma (unidade que havia sido debandada em Turim em setembro de 1943), se tornando seu primeiro comandante. Um dos mais admirados oficiais Bersagliere do pós-guerra, Sturchio teve uma longa e destacada carreira militar, passando para a reserva na patente de Generale di Corpo d'Armata.

Em sua aposentadoria, foi membro frequente da Associação Nacional Bersagliere, e celebrou seu centenário de vida em 2009, com uma grande homenagem de seus soldados. Em 24 de maio deste ano, o Generale Sturchio aindacelebrou seu 104º aniversário, sendo homenageado em Roma. Faleceu tranquilamente apenas 10 dias depois.

Viúvo, ele deixa um filho, o também Generale di Corpo d'Armata Amedeo Sturchio.

Sturchio (de pé, ao centro), e seus oficiais do 1º Regimento Bersagliere, recém-reconstituído em Roma, 1950.

Suas condecorações. Destaque para as três Medaglie d'Argento, três Croce al Merito di Guerra, a Cruz de Ferro de 2ª Classe e a Insígnia do Front Russo.

Generale Sturchio no dia de seu 100º aniversário. Roma, 24 de maio de 2009.

O panfleto de propaganda da FEB aos alemães em Fornovo

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Nos fins de abril de 1945 o 6º Regimento da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária Brasileira, comandado pelo Coronel Nelson de Melo, cercou um grupamento armado alemão nas proximidades da pequena Fornovo di Taro, no norte da Itália.

Após os primeiros contatos com o inimigo, confirmou-se de que se tratava da 148ª Divisão de Infantaria da Wehrmacht, levando consigo remanescentes de outras grandes unidades alemãs e italianas. Este numeroso grupamento armado, que ainda resistia bravamente, apesar de cercado, respondia ao Generalleutnant Otto Fretter-Pico, oficial detentor da Cruz do Cavaleiro, que a esta altura preocupava-se com o destino de suas tropas ante a aproximação dos vorazes grupos de guerrilheiros italianos, que vinham matando prisioneiros rendidos em grande quantidade (vide o caso de Adriano Visconti).

Neste contexto, render-se à Força Expedicionária Brasileira era uma opção mais segura do que resistir indefinidamente até que grupos de guerrilheiros pudessem aproximar-se. O Alto-Comando brasileiro decidiu-se por tentar todos os meios para apressar a rendição de Fretter-Pico, e uma das medidas tomadas foi lançar sobre as posições alemãs panfletos propagandísticos explicando a razão pela qual brasileiros estavam lá, lutando contra eles.

No dia 27 de abril, este panfleto foi lançado sobre o inimigo cercado:

"Por que nós, soldados brasileiros, lutamos contra os alemães?
 

Tentamos responder a essa pergunta facilmente. Brasil se juntou às nações Aliadas contra a Alemanha Nazista por causa de duas razões mais do que convincentes:

Primeiro, porque o nosso país, basicamente, tem sido desafiado várias vezes por submarinos corsários alemães, apesar de nossas ações diplomáticas, afundando nossos navios desarmados perto da costa do Brasil, apesar de o Brasil sempre se declarar escrupulosamente neutro;

Em segundo lugar, porque o povo brasileiro quer viver em um mundo livre, onde as pessoas vivem livres e pacificamente, e não em um mundo ocupado pela tirania de Hitler! A chamada "Nova Ordem" não foi destinada apenas à Europa, porque era na verdade uma conspiração mundial, um perigo para todos os países do mundo. Intriga política com a qual os nazistas procuraram envolver todos os países da América do Sul, incluindo a invasão do nosso país, a nova ordem alemã mostrou muito claramente que o Brasil tem sido diretamente afetado e ameaçado pelo Nacional-Socialismo.

Nós soldados brasileiros lutamos na Europa, juntamente com os nossos camaradas das Nações Unidas, contra o imperialismo e o espírito de ataque nacional-socialista, para um futuro de liberdade e progresso
.
"

As tropas sob comando de Fretter-Pico se renderam à FEB no dia 29 de abril. Foi a primeira vez que toda uma divisão inimiga se rendia de uma só vez no Teatro de Operações italiano - e a Força Expedicionária Brasileira estava lá para recebê-la.

Navios brasileiros: quem realmente afundou?

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Por muito tempo eu tenho visto que uma postagem ou outra sobre a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial provoca uma discussão acalorada sobre aquele motivo que se tornou o estopim de nosso envolvimento militar: os afundamentos dos navios.

Apesar de os fatos serem claros, atestando que os ataques foram realizados por submarinos do Eixo em nossa costa e em águas do Hemisfério Norte e da África do Sul, ainda persiste a insistente alegação de que, na verdade, nós fomos “ludibriados” a entrar na guerra por submarinos americanos, que afundaram nossos navios e puseram a culpa nos alemães.

Vou fazer aqui minha análise, baseada no que sei e pesquisei ao longo desses anos, e vou tentar jogar uma luz no assunto.

Primeiro, esta história de “submarinos americanos nos atacando” surgiu anos depois da guerra, na forma da conhecida ofensiva revisionista de esquerda que tanto afeta o Brasil desde longa data, e que também é responsável pelo famoso mito de que o Império Brasileiro lutou a Guerra do Paraguai a mando da Inglaterra (nem tínhamos relações diplomáticas com a Inglaterra na época, só para vocês verem até onde esse pessoal é capaz de ir para denegrir a imagem do próprio país), mas isso é assunto para outra discussão.

É normal (infelizmente) que num país que não investe em educação, os mitos populares se tornem conhecimento científico, e mesmo penetrem em sala de aula. Isso contribui para perpetuar muitas mentiras a respeito da nossa história nacional.

Mas vamos aos fatos.

O Brasil era grande parceiro comercial da Alemanha na década de 1930. A Alemanha precisava de matérias-primas e o Brasil precisava de produtos industrializados. Era quase uma relação perfeita. Para completar, o Ministério das Finanças da Alemanha iniciou um programa de comércio exterior utilizando uma moeda paralela chamada Marco Aski (Auslander Sonderkonten für Inlandzählung). Neste programa, os países faziam pagamentos de compras em sua moeda nacional, que eram então convertidos em Aski e trocados no Reichsbank por créditos. Desta maneira, não era necessário ter reservas em moeda estrangeira para fazer negócios, o que ampliava bastante a margem comercial que o Brasil tinha com a Alemanha. Apesar dos protestos norte-americanos, Vargas sabia que este comércio era essencial para o Brasil e não tomou medidas para diminuí-lo.

Vargas: soube manter os americanos à baila enquanto mantinha negócios com a Alemanha.

Foi somente em setembro de 1939, com o início da guerra na Europa, que Vargas percebeu que não mais poderia contar com a Alemanha como parceira comercial de porte. Afinal, com sua situação geográfica pouco privilegiada, os alemães estariam bloqueados pela Marinha Inglesa de acessar o Atlântico. Por pragmatismo geopolítico, Vargas sabia que os Estados Unidos seriam a potência a exercer influência no Hemisfério Ocidental até o término do conflito europeu. Se terminasse com uma vitória alemã, entretanto, não seria prudente rasgar as boas relações com o Reich tão depressa.

Mas os Estados Unidos já haviam se decidido em dar apoio aos Aliados, e sua influência geopolítica não podia ser negada. As coisas ficaram mais tensas após a rápida vitória alemã contra a França em junho de 1940, que levou a um rápido crescimento de prestígio da Alemanha nos países sul-americanos. Os EUA não perderam tempo e convocaram uma conferência para o mês seguinte em Havana, Cuba, onde foi decidido por todos os estados americanos que o ataque de uma potência estrangeira a qualquer um deles significaria uma agressão a todos.

Neste mesmo ínterim, os EUA assinaram um acordo comercialcom o Brasil para compra de toda sua produção de matéria-prima, visando impedir qualquer suprimento para a Alemanha ou Itália. Em julho de 1941, os americanos iniciaram a ocupação das bases aeronavais do nordeste, em Recife e Natal, para combater os submarinos do Eixo que operavam na área. No mês anterior, os EUA também já haviam ocupado a Islândia, na zona europeia do Atlântico Norte.

Como podem ver, apesar de oficialmente neutro, o Brasil já cooperava claramente com os EUA, cedendo-lhes bases em seu território e também matérias-primas importantíssimas, sendo a maior delas a borracha. Já com o Lend-Lease em pleno funcionamento, os Estados Unidos estavam neste ponto suprindo com armas Grã-Bretanha, União Soviética e Brasil, fechando um cordão global de contenção contra o Terceiro Reich – o que não poderia deixar de ser notado pelos alemães.

Em 22 de março de 1941, o primeiro navio brasileiro foi atacado: o Taubaté, que navegava no Mediterrâneo Oriental. O navio foi vítima de um ataque aéreo da Luftwaffe, enquanto portava a bandeira nacional no topo do mastro, segundo relatos do capitão Mário Fonseca Tinoco. O Taubaté seguia para Alexandria, numa zona de guerra, e embora o ataque tenha se dado contra uma embarcação de um país neutro, a Embaixada Alemã no Rio de Janeiro recusou-se a dar explicações quando inquirida. A degradação de relações bilaterais a este ponto é clara.

Quando os EUA foram atacados em Pearl Harbor em 7 de dezembro de 1941, Hitler rapidamente viu que a escalada armamentista do país que supria seus inimigos seria vertiginosa, então declarou-lhes guerra quatro dias depois, para poder agir diretamente contra as forças americanas.

E claro, respingos desta decisão afetariam diretamente o Brasil. Ora, se a preocupação de Hitler com os EUA era seu contínuo suprimento de material bélico para os Aliados, é claro que a fonte de matéria-prima desse material bélico se tornaria um alvo primordial. E note como é logo a partir daí que começa a série de afundamentos de navios brasileiros.

Paukenschlag: submarinos alemães rumam para a costa dos EUA pela primeira vez. Lá seriam afundados os primeiros navios brasileiros.
 
Foi justamente durante a Operação Paukenschlag (“Rufar dos Tambores”) que os primeiros navios brasileiros foram a pique, na costa leste dos EUA: o Buarque, em 15 de fevereiro de 1942 e o Olinda três dias depois; ambos vítimas do U-432 do Kapitänleutnant Heinz-Otto Schultze.

É importante ressaltar que o esforço de guerra submarina contra os navios brasileiros não advém de alguma “birra” alemã com Brasil, mas sim de um esforço naval coordenado do Eixo. Isso mesmo, Alemanha e Itália.

Embora presa no Mediterrâneo pela presença inglesa em Gibraltar, a Regia Marina conseguiu passar um número de seus grandes submarinos para o Atlântico, operando a partir de Bordeaux, na França, uma unidade chamada BETASOM (Bordeaux Sommergibile) sob comando do Almirante Angelo Parona, que respondia diretamente a Karl Doenitz em Berlim.

Desta maneira, não é de se estranhar que o próximo navio brasileiro a ser afundado, o Cabedelo, o foi pelo italiano RS Da Vincino Atlântico Norte, em 25 de fevereiro. Este afundamento foi inclusive o primeiro a apresentar um grande número de baixas: 54, toda a tripulação.

Capitão Gianfranco Gazzana-Priaroggia, comandante do Da Vinci, que afundou o Cabedelo. Mais bem-sucedido submarinista italiano da guerra, foi condecorado pelos alemães com a Cruz do Cavaleiro.
 
Os afundamentos seguiram em passo firme até o mês de agosto, com mais 12 embarcações nacionais destruídas. Mas o que realmente devemos analisar são os fatos ocorridos em agosto de 1942, que levaram definitivamente o governo Vargas a declarar guerra ao Eixo.

Sabemos que neste estágio a cooperação Brasil-EUA estava num ponto bastante alto, inclusive com a troca de personalidades da área de cultura entre os dois países, como a conhecida vinda de Walt Disney ao Rio, que culminou na criação do personagem Zé Carioca. Sabemos também das negociações para financiamento americano da construção da primeira siderúrgica nacional, obra da hábil capacidade diplomática varguista. Mas aí entra em cena a série de afundamentos de 16 e 17 de agosto.

Os cinco navios brasileiros que foram ao fundo neste período (Baependi, Araraquara, Aníbal Benevolo, Itagiba e Arará) vitimaram 600 pessoas. O governo declarou guerra à Alemanha e Itália em 22 de agosto.

Baependi: o primeiro dos navios brasileiros afundados pelo U-507.

Aí vem a famosa alegação: os americanos desejavam atrair o Brasil para a guerra, então afundou-lhes os navios e jogou a culpa nos alemães. E isso faz sentido? Vejamos: em agosto de 1942, o Brasil já recebia em seu próprio território a maior base americana fora dos EUA; já havia aeronaves e navios americanos operando por todo o litoral, desde Natal até Florianópolis; já vendia para os EUA todo tipo de matéria-prima que estes necessitavam; e ainda era suprido pelos EUA com as armas que havia solicitado.

Mas vimos que os alemães não viam com bons olhos a questão do suprimento de matérias-primas brasileiras aos Estados Unidos (afinal, sem borracha para fazer pneu nenhum exército se move), e desde o começo do ano vinham atacando os mercantes que faziam este suprimento para os EUA. Repare que eu escrevi “os mercantes”, e não “os navios brasileiros”. Isso porque os alemães atacaram qualquer navio que suprisse os EUA. Os mexicanos entraram em guerra até antes de nós, em 22 de maio de 1942, porque dois petroleiros seus foram afundados por U-Boots. Então, percebemos aí a clara política alemã de não distinguir bandeiras de navios, visto que o importante era prejudicar o esforço de guerra norte-americano. E esta é uma decisão puramente prática, porque neste estágio não restavam mais grandes potências que a Alemanha pudesse temer: todas já eram suas inimigas. Desta forma, o risco calculado de afundar navios de nações neutras era, para a Alemanha, baixo, quando comparado aos benefícios de prejudicar o abastecimento dos EUA.

E o mais interessante de tudo: os alemães e italianos nunca negaram sua responsabilidade pelos afundamentos! Está tudo bastante claro e descrito nos arquivos navais de ambos os países. A “bíblia virtual” para qualquer pesquisador da Kriegsmarine é o site www.uboat.net, que publica uma quantidade espantosa de dados sobre a guerra dos submarinos alemães tendo como uma de suas bases os arquivos do Deutsches U-Boot Museum em Cuxhaven, acessível em www.dubm.de. Os registros italianos podem ser conferidos no excelente www.regiamarina.net. Nos dois websites, você pode fazer uma pesquisa detalhada da folha de serviços de cada submarino, e ver que lá estão registrados os afundamentos dos navios brasileiros.

O protagonista dos afundamentos de agosto de 1942 foi o Korvettenkapitän Harro Schacht, em seu U-507. Em sua terceira patrulha, ele havia zarpado de Lorient, na França, em 4 de julho de 1942, com destino ao Atlântico Sul. Esta área já era um destino comum para os submarinos, visto a grande quantidade de navegação Aliada na região, tanto para suprir os EUA, quanto de comboios que passavam pelo Cabo da Boa Esperança rumo ao Índico ou à Inglaterra.

Korvettenkapitän Harro Schacht, comandante do submarino U-507, cujos afundamentos de navios brasileiros levou o governo Vargas a declarar guerra à Alemanha.

Schacht se aproximou da costa brasileira em 12 de agosto, afundando o Baependi na costa sergipana quatro dias depois. Em apenas 48 horas ele afundaria 6 navios brasileiros (incluindo a barcaça de pesca Jacira), todos devidamente comunicados ao QG da Kriegsmarine na Alemanha. No dia em que o Brasil fez sua declaração de guerra, 22 de agosto, Schacht ainda afundaria o cargueiro sueco Hammaren, na costa da Bahia (também devidamente telegrafado a Berlim). Fica aí a pergunta: se fossem os americanos, teriam eles também afundado o navio sueco, para “forçar a Suécia a entrar em guerra”? Somente para conhecimento, 88 navios suecos foram afundados durante a guerra por submarinos alemães – seria por acaso uma “guerra fantasma” norte-americana, contra a navegação sueca, para forçar este país a declarar guerra à Alemanha? Será que os alemães tomariam a culpa por 88 navios afundados em 6 anos de guerra, quando na verdade nada tinham a ver com o caso? Se soa absurdo é porque é.

Você pode conferir dia-a-dia o progresso da 3ª patrulha de Schacht no U-507 simplesmente clicando aqui: http://uboat.net/boats/patrols/patrol_1099.html. Vai ver ainda que ele, após afundar os navios na costa brasileira, auxiliou no resgate dos sobreviventes do navio de passageiros inglês SS Laconia, ao sul de Dakar. Não se tratava, também, de um “demônio sem alma” submarino. Ressalto isso porque fica bem mais clara qualquer compreensão quando é feita à luz dos fatos, e não do folclore da época.

Como se não bastasse, vamos agora a um relato de alto-escalão (o mais alto possível), para comprovar que a Alemanha sim, planejou, aprovou e executou os afundamentos dos navios brasileiros na Segunda Guerra. Seguem as palavras do próprio Almirante Karl Doenitz, comandante da arma de submarinos (Ubootwaffe) e, a partir de 1943 comandante da própria Kriegsmarine, em seu livro de memórias “Zehn Jahre und zwanzig Tage” ("Dez Anos e Doze Dias"). Grifos meus:

Almirante Karl Doenitz.
Finalmente, havia a possibilidade de operações na costa do Brasil. Nossas relações políticas com aquele país vinham há algum tempo se deteriorando cada vez mais, e ordens do Alto Comando Naval com relação à nossa atitude para com a navegação brasileira enrijeceram-se de acordo.

Em 27 de janeiro de 1942, como resultado do estado de guerra que existia entre nós e os EUA, o Brasil rompeu relações diplomáticas conosco. Até então, nenhum navio brasileiro havia sido afundado por um submarino alemão.

No entanto, entre fevereiro e abril de 1942, nossos submarinos torpedearam e afundaram sete navios brasileiros, já que tinham todo o direito de fazê-lo, visto que os capitães não conseguiram determinar sua natureza neutra. Eles navegavam sem luzes e em zig-zag, alguns armados e pintados de cinza, e sem bandeira nacional.

Depois disso, mais e mais navios brasileiros instalaram armas, até que toda sua frota estava armada.

No fim de maio, o Ministério da Aeronáutica do Brasil anunciou que todas as aeronaves brasileiras estavam atacando submarinos do Eixo, e continuariam a fazê-lo.

Sem qualquer declaração formal, estávamos então em guerra contra o Brasil, e em 4 de julho os U-Boots receberam ordens de nossa liderança política para atacar todos os navios brasileiros.

Do outro lado dos estreitos entre a África e a América do Sul operava o U-507 (Korvettenkapitän Schacht). Lá, fora de águas territoriais, ele afundou cinco navios brasileiros. Nisto ele agiu de acordo com as instruções que recebera, com a anuência do Ministério do Exterior e do OKW. O governo brasileiro tomou estes afundamentos como razão para declarar guerra contra a Alemanha.

Embora isso não alterasse em nada nossas relações existentes com o Brasil, que já tomava parte em ações hostis contra nós, foi sem dúvidas um erro ter trazido o Brasil a uma declaração oficial; politicamente deveríamos ter sido aconselhados a evitar isso. O comandante dos submarinos, no entanto, e o capitão do U-Boot em questão, como membros das forças armadas, não tinham escolha a não ser obedecer as ordens que haviam recebido; não cabia a eles pesar e medir as consequências políticas.”

Está aí, bem claro. Vemos com todas as palavras o testemunho de Doenitz sobre como progrediram (ou deterioraram, se preferir) os eventos navais que levaram o Brasil a declarar guerra à Alemanha em 1942.

As provas documentais dos ataques vão de acordo com o desenrolar da situação política da época: o crescente alinhamento político e estratégico do Brasil com os Estados Unidos fez com que a Alemanha e Itália começassem a atacar os navios brasileiros, o que eventualmente levou o Brasil à beligerância.

E às provas documentais somam-se as evidências físicas: 11 submarinos do Eixoencontram-se afundados nas costas brasileiras, e um deles (U-513) foi localizado na costa de Santa Catarina em 2011. Não é difícil concluir que 11 submarinos afundados em nossas costas demonstram que um esforço naval de portefoi montado contra nós.

Dadas as evidências históricas, físicas e documentais, não há razão para questionar a autoria ítalo-germânica dos ataques aos nossos navios. A fantasia de que os americanos provocaram os afundamentos para nos tragar para a guerra não passa de “sabedoria popular”, desprovida de qualquer suporte.

Cada ação acarreta uma reação, e na cadeia de eventos da Segunda Guerra Mundial, nossa crescente aliança com os americanos nos levou às garras da arma submarina do Eixo.

Nota de Falecimento: Dragos Stinghe

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Dragos Stinghe
(25/03/1920 - 23/06/2013)

Faleceu no último dia 23 de junho em Bucareste, na Romênia, de causas naturais aos 93 anos de idade, o ás romeno Brigadeiro-General Ioan Dragos Stinghe.

Nascido em Brasov, cidade sede da Industria Aeronautică Română (IAR), Stinghe desde pequeno se encantou com as aeronaves que sobrevoavam, decolavam e pousavam em sua cidade. Com a Romênia em guerra contra a União Soviética há um ano, Stinghe ingressou na Escola de Aviação de Galati em 1942, treinando em caças poloneses PZL P.11, adquiridos em 1933 e a esta altura restritos às escolas de voo.

Após concluir seu treinamento, o 2º Tenente-Aviador Dragos Stinghe foi feito piloto do caça-bombardeiro nacional IAR-81C, sendo enviado como recompletamento ao 7º Grupo de Caça (comandado pelo Capitão-Aviador Virgil Trandafirescu) em novembro de 1943, quando esta unidade estava em seus últimos dias na Ucrânia. Stinghe foi integrado à 58ª Esquadrilha do Tenente-Aviador Ion Dicesare. Com o recuo da unidade para o território nacional e a chegada do inverno, as ações contra os soviéticos tiveram uma trégua, e o grupo somente retornou à ação em abril de 1944.

Em 4 de abril a USAAF baseada na Itália iniciou uma ofensiva de bombardeio contra os campos petrolíferos romenos em Ploiesti, e toda a força de caças nacional foi destinada a conter esta ameaça, contando também com o auxílio de unidades da Luftwaffe. Durante os confrontos de abril, voando o IAR-81C, Stinghe abriu seu escore contra os bombardeiros americanos. O 7º Grupo derrubaria 32 bombardeiros naquele mês. Contudo, a partir de 21 de abril a escolta de caças americanos intensificou-se, e naquele dia sete aviões de sua esquadrilha decolaram: "Subimos até 6 mil metros e quando saímos das nuvens vimos uma formação na nossa frente, vindo na direção oposta. Atacamos como raios, mas quando passamos dos bombardeiros os caças saltaram sobre nós. Dos sete, somente eu escapei, por pura sorte. Dois foram mortos e outros quatro seriamente danificados. Um dos que morreu foi alvejado em seu paraquedas. Aquilo não foi justo".

No fim de abril o 7º Grupo foi transferido para o front da Moldávia, para dar apoio às forças romeno-germânicas em solo que enfrentavam a ofensiva soviética na Batalha de Targu-Frumos. Após pouco mais de um mês, entretanto, foram transferidos de volta para a defesa nacional, e durante todo o verão enfrentaram as crescentes ofensivas aéreas americanas

Em 22 de agosto, Stinghe estava baseado em Roman, no norte do país, quando foram avistados tanques russos nas proximidades do campo de pouso. Imediatamente soado o alarme de fuga, todo o contingente do 7º Grupo começou a ser evacuado. Contudo, em falta crônica de caças, os romenos relutavam em deixar para trás um dos seus Messerschmitt Me 109, que estava em plena manutenção. Stinghe voluntariou-se para levar a aeronave para Bucareste, sendo advertido por Dicesare de que havia bastante vibração do motor. Stinghe foi o último a decolar, e percebeu que apenas uma perna do trem de pouso subira. Ele reduziu a potência do motor para diminuir a tremenda vibração, e prosseguiu desta maneira pelos Cárpatos até Bucareste. Chegando lá, incapaz de descer a segunda perna do trem de pouso, fez o pouso com uma única perna, causando poucos danos à aeronave. Os mecânicos que viram o estado da aeronave ficaram incrédulos quando Stinghe saiu ileso do cockpit. No dia seguinte, 23 de agosto de 1944, a Romênia assinou o cessar-fogo com a União Soviética.

Transferido para o 9º Grupo de Caça e definitivamente a bordo do Me 109, Dragos Stinghe ainda participou da campanha aérea da Romênia - agora do lado dos Aliados - contra a Alemanha, operando em bases na Hungria e Tchecoslováquia, chegando a Viena no fim da guerra. Com mais de uma centena de missões operacionais realizadas, Stinghe terminou o conflito com 5 vitórias aéreas confirmadas e diversos alvos destruídos em solo, sendo condecorado com a Ordem da Virtude Aeronáutica e a Ordem da Coroa da Romênia.

Após a guerra, ascendeu ao comando de um esquadrão de MiG-15s, tornando-se posteriormente oficial do estado-maior de um regimento e da divisão de caça. Stinghe ainda voou o MiG-19 antes de passar para a reserva em 1960 na patente de Coronel. Ele foi ainda brevemente preso pelos comunistas, que encontraram em sua casa um convite de jantar feito por uma princesa.

Stinghe terminou sua carreira como inspetor de prevenção de acidentes da Tarom, a empresa aérea nacional da Romênia. Em 1990, publicou sua autobiografia, "Combatendo com o 214", e em 2005 lançou também "O Destino de Nossa Juventude". Em 2006 o presidente romeno Traian Basescu elevou-o à patente de Brigadeiro-General.

Com seu falecimento, somente um ás romeno continua vivo: o General Ion Dobran.

Meus agradecimentos ao amigo Claudiu Stumer pela ajuda.

Stinghe a bordo do caça-bombardeiro IAR-81C.

Tenente Stinghe no cockpit de seu Me 109G-2.

Comemorações do Dia da Aviação na Romênia, 20 de julho de 2009: Dragos Stinghe (à direita) é abraçado pelo colega veterano Eusebie Hladiuc (centro), piloto de bombardeiro SM.79.

Messerschmitt Me 109G-2 de Dragos Stinghe. 1º Grupo de Caça: Viena, Áustria, primavera de 1945.

Den Pobedy: a canção do Dia da Vitória

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A música parecia fazer o tempo voltar para trás. Embora escrita décadas depois da guerra, agora parece que foi esta música que nos ajudou a chegar à vitória” – Vladimir Shainsky, compositor soviético.

A música, que se tornaria uma mais conhecidas e tocadas baladas russas sobre a Segunda Guerra Mundial, é “Den Pobedy” – em português literal “Dia da Vitória”. Trata-se de uma composição bastante conhecida (mesmo que você não saiba seu nome) de quem já costuma assistir aos desfiles de 9 de maio na Praça Vermelha, com seu refrão orquestrado singular e imponente. Contudo, como já dito acima, Den Pobedy foi composta quase 30 anos após o fim da Segunda Guerra.

Sua origem remonta à um concurso musical aberto pelo governo em Moscou, para celebrar o 30º aniversário da vitória em 1975. Naquele mês de março, o poeta e veterano de guerra Vladimir Kharitonov, procurou seu tradicional parceiro de criação musical, o compositor David Tukhmanov, propondo a ele que escrevesse uma nova música para uma letra que havia criado.

Os compositores: Vladimir Kharitonov (letra) e David Tukhmanov (música).

Trabalhando intensamente contra o prazo, Tukhmanov compôs uma melodia bastante diferente dos clássicos musicais sobre a guerra, com ritmo empolgante e quase dançante – algo que poderia ser entendido como “ritmo burguês” pelo governo socialista soviético. Mesmo assim, Tukhmanov acreditava em seu trabalho, e apenas alguns dias antes do prazo final de inscrição, conseguiu que uma orquestra gravasse a melodia.

No dia da apresentação perante o júri, sua esposa, a cantora lírica Tatiana Sashko fez a primeira performance pública de Den Pobedy, somente para ser massacrada pelos jurados – antigos críticos musicais formados no período stalinista. Acharam a música “moderna demais”.

Den Pobedy poderia ter simplesmente caído no esquecimento, não fosse o cantor Lev Leshchenko, um dos mais populares da União Soviética na época, ter se apaixonado por ela. Mesmo sendo desencorajado por muitos amigos próximos, Leshchenko resolveu cantar a música em sua apresentação na capital do Cazaquistão, Almaty, no fim de abril. Desta vez, a recepção foi bem diferente, com aplausos entusiásticosirrompendo pela platéia.

Lev Leshchenko, voz que levou a música ao sucesso.

Isso encorajou Leshchenko a cantar mais uma vez a canção, só que agora ao vivo em rede nacional para toda a União Soviética e países satélites, em 10 de novembro daquele ano. Com uma orquestra completa executando a música, Leshchenko subiu ao palco em frente a uma plateia repleta de veteranos da guerra, e a presença ilustre de ninguém menos que o Marechal da União Soviética Ivan Bagramyan, comandante do 1º Front do Báltico entre 1943 e 1945, e então o único dos comandantes de Front ainda vivo. Estava Leshchenko desta forma cantando Den Pobedy para uma toda a casta de veteranos da Grande Guerra Patriótica, desde o marechal comandante até o soldado raso – e eles responderam com emoção. Acompanhe:


A apresentação segue o padrão artístico soviético da época, com direito a criancinhas correndo para abraçar o cantor e entregar-lhe flores ao final. Em meio aos aplausos, Kharitonov (de óculos) e Tukhmanov se levantam para saudar Leshchenko pela execução de sua canção.

Den Pobedy mexeu nas emoções soviéticas da época porque não toma o ponto de vista de jovens soldados, e sim de velhos veteranos relembrando o passado. Falam da dureza dos dias que enfrentaram, da felicidade de atingir a vitória, e da dor de ver quantos dos seus irmãos não puderam voltar para casa. A música tornou-se uma favorita de Leonid Brezhnev, líder soviético da época, que disse a Kharitonov: “Pessoas vão cantar esta música por muito tempo depois de você e eu termos morrido”. Nisso ele estava certo.

Den Pobedy

Den' Pobedy, kak on byl ot nas dalyok,
Kak v kostre potukhshem tayal ugolyok.
Byli vyorsty, obgorelye, v pyli —
Etot den' my priblizhali kak mogli.

Refrão
Etot Den' Pobedy
Porokhom propakh,
Eto prazdnik,
S sedinoyu na viskakh.
Eto radost'
So slezami na glazakh.
Den' Pobedy!
Den' Pobedy!
Den' Pobedy!

Dni i nochi u martenovskikh pechey,
Ne smykala nasha Rodina ochey.
Dni i nochi bitvu trudnuyu veli, —
Etot den' my priblizhali kak mogli.

Refrão

Zdravstvuy, mama, vozvratilis' my ne vse,
Bosikom by probezhat'sya po rose!
Pol-Yevropy proshagali, pol-Zemli —
Etot den' my priblizhali kak mogli.

Refrão x 2

Den Pobedy (Tradução)

Dia da Vitória, foi há tanto tempo,
Como uma brasa diminuindo no fogo que esmaece.
Aqueles caminhos, queimados e cobertos de poeira –
Este dia, o trouxemos o mais rápido que pudemos.

Refrão
Este Dia da Vitória
É intenso com o cheiro da pólvora,
É um dia de celebração
De lugares já cinzentos,
Esta é nossa alegria,
Com lágrimas nos olhos,
Dia da Vitória!
Dia da Vitória!
Dia da Vitória!

Dias e noites nos alto-fornos,
Nossa Pátria não fechou os olhos.
Dias e noites lutamos uma dura batalha –
Este dia, o trouxemos o mais rápido que pudemos.

Refrão

Olá mamãe, nem todos nós pudemos voltar...
Como eu gostaria de correr com os pés descalços no orvalho!
Metade da Europa, marchamos por metade da Terra –
Este dia, o trouxemos o mais rápido que pudemos.

Refrão x2

Muslim Magomaev, considerado o “Frank Sinatra soviético”, também gravou uma versão emocionante da canção (minha versão favorita):


Den Pobedy sobreviveu intacta à queda da URSS, sendo hoje executada na culminação dos eventos musicais que cercam as celebrações do Dia da Vitória, geralmente acompanhada por uma salva de fogos de artifício. Aqui, Leshchenko encerras as celebrações dos 65 anos da vitória em 9 de maio de 2010 - 35 anos após cantar a música pela primeira vez:


Uma bela canção, que coroa um momento de grande orgulho nacional russo.

Tanque soviético é encontrado em Israel

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Da série: coisas que poderiam acontecer no meu quintal, mas não acontecem.

Uma equipe de construção estava escavando uma área perto do distrito industrial de Holon, perto de Tel Aviv, esta semana. Foi quando as escavadeiras bateram em algo metálico.

A retirada gradual da terra ao redor revelou que o objeto era nada mais nada menos do que um tanque soviético da Segunda Guerra Mundial, enterrado metros abaixo do solo.

O tanque foi encontrado – e isso é engraçado – na Rua Merkava, justamente o nome que batiza a principal família de blindados israelenses.

A polícia de Israel inicialmente isolou a área, temendo que velhos explosivos pudessem ainda estar lá, mas não havia tal perigo. Os policiais então postaram fotos do curioso achado no Facebook.

Especialistas disseram que o tanque – um T-34, cuja produção iniciou-se em 1940 – pode ter sido capturado durante uma das guerras que Israel lutou no século XX, já que os soviéticos supriram os países árabes com milhares de seus tanques. Pode ser também uma sobra de uma oficina militar que existiu por anos perto dali.

O destino do T-34 israelense é ainda incerto. Mas provavelmente será adotado por alguém ou alguma associação que irá restaurá-lo de volta à sua antiga boa forma.

Fonte: Times of Israel, 3 de julho de 2013.





Nota de Falecimento: Viktor Kulikov

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Viktor Kulikov
(05/07/1921 - 27/05/2013)

Faleceu no último dia 29 de maio em Moscou, Rússia, de causas naturais aos 91 anos de idade, o Heroi da União Soviética, Marechal da URSS Viktor Georgiyevich Kulikov.

Nascido no vilarejo de Verkhnyaya Lyubovsha, a sudoeste de Moscou, ainda na infância ele mudou-se com a família para Stavropol. Após concluir os estudos em 1938, juntou-se ao Exército Vermelho no ano seguinte, seguindo para a Escola de Infantaria de Grozny, de onde graduou-se em 1941 como Tenente-Júnior. Kulikov recebeu então o comando de um pelotão da 41ª Divisão Blindada em Kiev.

Quando a Alemanha invadiu a União Soviética em 22 de junho de 1941, Kulikov foi imediatamente redistribuído, atuando no front sudoeste no comando de uma companhia de motocicletas de reconhecimento. Nesta unidade ele participou das mal-sucedidas ações defensivas em Kiev e Kharkov, até que, em outubro, foi transferido para a 143ª Brigada Blindada, tornando-se seu oficial de ligação. Em julho de 1942, Kulikov tornou-se chefe de operações da unidade, e em agosto de 1943 foi nomeado seu Chefe de Estado-Maior. Já na fase de ofensiva do Exército Vermelho contra a Wehrmacht, a 143ª Brigada Blindada combateu incessantemente no Front de Kalinin, 1º Front Báltico e 2º Front Bielorrusso; Kulikov realizou o planejamento de ofensivas contra Smolensk, Minsk, Riga e Prússia Oriental, constantemente enfrentando posições fortificadas alemãs e operando na contenção de contra-ataques blindados. Nesta tarefa, Kulikov mostrou-se bastante talentoso, contribuindo em peso para a implementação bem-sucedida das ações de sua brigada. Após a vitória em maio de 1945, um relatório do Alto-Comando dizia: "O Camarada Kulikov, trabalhando como Chefe de Estado-Maior desde agosto de 1943, mostrou, na luta e no trabalho diário toda sua capacidade, sabendo como planejar batalhas e treinamento de combate. Em ação, determinado em corajoso, recebeu cinco comendas estatais".

Após a guerra, Kulikov galgou postos de comando cada vez mais altos, graduando-se na Academia Militar de Estado-Maior em 1959, já como Major-General. Em seguida, comandou os distritos militares da Bielorrússia, Leningrado e Kiev, até ser elevado - já na patente de General de Exército, e aos 50 anos de idade - à Chefia de Estado-Maior das Forças Armadas Soviéticas, o 3º posto mais prestigioso dentro da URSS.

Em 14 de janeiro de 1977, Viktor Kulikov foi promovido a Marechal da União Soviética, assumindo logo depois o comando das Forças do Pacto de Varsóvia, a posição militar mais influente do bloco soviético. Considerado um líder severo e aguerrido aos dogmas soviéticos, sua nomeação foi uma demonstração do desejo de Moscou de apertar as rédeas em sua zona de influência, numa época de revoltas na Checoslováquia, Polônia e Alemanha Oriental. Ele teve destacado papel durante as revoltas polonesas de 1981, quando aquele país ficou sob ameaça de invasão soviética devido aos tumultos com sindicatos de trabalhadores. Em 3 de julho de 1981, por reconhecimento de suas ações na destruição das forças alemãs na Segunda Guerra Mundial e competência mostrada no desenvolvimento das Forças Armadas Soviéticas, em conexão com seu 60º aniversário, o Presidium do Soviete Supremo concedeu ao Marechal Kulikov a Estrela Dourada de Heroi da União Soviética.

Quando em 1987 Gorbachev e Reagan assinaram um tratado limitando o número de mísseis balísticos na Europa, Kulikov ameaçou empregar mais armas em resposta à qualquer agressão da OTAN. Sua atitude contrária aos acordos de desmilitarização com o ocidente fizeram com que Gorbachev o demitisse do Comitê Central do Partido Comunista em 1989. Com a queda da União Soviética em 1991, Kulikov passou a representar seu país no parlamento.

Em 1997, numa conferência multinacional realizada em Varsóvia para discutir os eventos da crise polonesa de 1981, Zbigniew Brzezinski, que fora assessor de segurança nacional do presidente Jimmy Carter, confessou a Kulikov que se a União Soviética invadisse a Europa Ocidental naquela época, ele seria assassinado por agentes americanos dentro de três horas.

Viktor Kulikov deixa sua esposa, Maria, duas filhas e muitos netos e bisnetos. Com sua morte, restam apenas dois Marechais da União Soviética ainda vivos: Vasily Petrov e Dmitry Yazov.

Foto de família, 1958: Coronel Kulikov e sua esposa Maria. Abaixo, sua sogra e suas duas filhas Lida e Valya. 

Marechal Sergei Sokolov, Marechal-do-Ar Boris Bugayev e Marechal Viktor Kulikov.

Marechal da União Soviética Viktor Kulikov.

Nota de Falecimento: Nadezhda Popova

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Nadezhda Popova
(27/12/1921 - 06/07/2013)

Faleceu no último dia 6 de julho em Moscou, Rússia, de causas naturais aos 91 anos de idade, a Heroina da União Soviética, Major Nadezhda Vasilyevna "Nadia" Popova.

Nascida em Shabanovka, na Ucrânia, Popova era filha de um ferroviário. Em sua adolescência, amava dança, música e teatro, mas sua vida realmente mudou no dia em que andava pelos campos perto de sua casa, e uma pequena aeronave desceu ali. A pequena Nadia pensou tratar-se de alguma divindade, mas ao ver o piloto descer em seu casaco de couro, viu que era apenas uma pessoa normal. Tocando a aeronave como um objeto de sonhos, ela decidiu que também queria voar.

Sem autorização dos pais, Nadia ingressou no aeroclube local aos 15 anos de idade. Aos 16, havia realizado seu primeiro voo solo e seu primeiro salto de paraquedas. Logo depois seguiu para a Escola de Aviação de Kherson, onde tornou-se instrutora de voo. Foi quando a Alemanha invadiu a União Soviética, e ela perdeu seu irmão Leonid no front de batalha no primeiro mês de combate. Angustiada, Popova tentou alistar-se como piloto militar, mas teve sua requisição seguidamente negada. Pouco depois, o avanço alemão varreu sua cidade natal. Somente em outubro de 1941 Josef Stalin assinou uma ordem autorizando a criação de três regimentos aéreos femininos, e ela finalmente pôde tornar-se a militar que desejava. 

Designada para o 588º Regimento de Bombardeio Noturno, Nadia aprenderia a voar a noite no frágil biplano Polikarpov Po-2, uma aeronave originalmente desenvolvida para treinamento nos anos 1920, feita de madeira e tecido. Nas mãos das garotas soviéticas, o Po-2 foi armado com duas bombas e tinha instrumentos rudimentares - além de tudo, elas não usavam paraquedas. O regimento iniciou operações em junho de 1942 junto ao 4º Exército Aéreo, no norte do Cáucaso. Dada a baixa capacidade de carga do Po-2, as missões de bombardeio do regimento se davam principalmente contra concentrações de tropa e depósitos logísticos do inimigo na retaguarda. As aviadoras se aproximavam em voo baixíssimo, e ao chegarem próximas ao alvo, desligavam os motores, deslizando silenciosamente pelo ar noturno, entregando as bombas com precisão. O farfalhar do vento nos tecidos dos biplanos criava um sussurro peculiar, que os alemães compararam ao voo de bruxas em vassouras. Daí o famoso apelido que ganharam de seus inimigos:Nachthexen ("Bruxas da Noite").

As aeronaves voavam em trio, com duas servindo de isca para os holofotes de busca dos alemães, enquanto a terceira realizava seu bombardeio. Em seguida, elas se alternavam nesses papeis até todas terem jogado suas bombas. Certa noite, enquanto aproximavam-se do alvo, sua formação foi pega pelos holofotes. Nadia lembrou-se: "Eu manobrei para escapar da luz e de repente vi que tinham mudado para outra aeronave que voava atrás de mim. Messerschmitts decolaram e a alvejaram, ela incendiou-se e caiu. Foi a primeira. Então virei minha cabeça e vi a segunda aeronave caindo em chamas e depois uma terceira, enchendo o céu de labaredas. Quando consegui voltar, quatro dos nossos aviões tinham caído, e com eles oito das nossas garotas queimadas vivas... Que pesadelo, pobres garotas, minhas amigas... No dia anterior tínhamos dormido no mesmo quarto".

Em outra ocasião, ela foi derrubada e juntou-se a um grupo de soldados em retirada. Em meio aos soldados, encontrou um piloto, também derrubado e ferido, com o rosto totalmente enfaixado, no qual somente podia-se ver os olhos. Era o Tenente Semyon Kharlamov, que encantou-se com Popova e se tornaria seu futuro marido. Enquanto eram transportados para suas unidades, os dois conversaram bastante e mantiveram correspondência durante todo o restante da guerra.

Voando baixo e tendo seu frágil avião constantemente crivado de balas, Nadia tornou-se uma expert, reconhecida por seu talento e sendo feita subcomandante do regimento, que a esta altura foi renomeado 46º Regimento de Bombardeio Noturno da Guarda - um atestado de seu sucesso em combate. Ela voou incessantemente em ataque no Cáucaso, Novorossiysk, Rostov, Sevastopol, Minsk, Polônia e Alemanha, chegando até Berlim. Ela chegou ao recorde de voar 18 sortidas em uma única noite, e totalizou 852 missões de bombardeio noturno contra alvos alemães. Como reconhecimento ao seu corajoso e impecável registro de combate, o Presidium do Soviete Supremo agraciou a Tenente Nadezhda Popova com a Estrela Dourada de Heroina da União Soviética em 23 de fevereiro de 1945. Curiosamente, Semyon Kharlamov foi feito Heroi da União Soviética no mesmo dia, e os dois se encontraram em Berlim após a vitória, escrevendo juntos seus nomes nas paredes do Reichstag.

Após a guerra, Popova continuou nas forças armadas como instrutora de voo, passando para a reserva em 1952 na patente de Major. Nas décadas seguintes serviu como parlamentar do Soviete Supremo. Seu marido chegou ao posto de Coronel-General da Força Aérea Soviética, vindo a falecer em 1990. Juntos tiveram um filho, Aleksandr, hoje general na Força Aérea da Bielorrússia.

As tenentes Ekaterina Ryabova (esq) e Nadia Popova (dir).

Popova e Kharlamov: casal de Herois da União Sovíética.

Nadezhda Popova.

Livro: Patton - O Heroi Polêmico da Segunda Guerra

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João Fábio Bertonha é professor de história da Universidade Estadual de Maringá e atualmente um dos maiores expoentes da história militar no Brasil. Autor de diversos ensaios sobre o tema, escolheu a controversa figura do General George Smith Patton Jr. para compor uma biografia leve, agradável e informativa, sobre a figura de um líder militar de moldes medievais em um mundo moderno.

A Editora Contexto vem trabalhando há algum tempo em uma linha de livros sobre história militar – o que é extremamente raro e louvável no Brasil dos últimos 30 anos – e “Patton – O Heroi Polêmico da Segunda Guerra” foi um dos primeiros títulos desta linha.

Bertonha usou vasta documentação para compor um traçado interessante da vida de Patton, considerado um dos mais capazes guerreiros que os Estados Unidos da América produziram no século XX, ao mesmo tempo em que representou uma dor de cabeça para muitos de seus superiores.

Desde o berço, Patton pode ser considerado uma criança especial. Nascido no seio de uma rica família sulista, cujo avô havia sido um coronel durante a Guerra Civil Americana. Ele admirava o retrato do General Robert E. Lee acima da lareira como se fosse Deus, e sua educação sempre o moldou para a carreira militar.

O autor descreve esta fase da formação da personalidade de Patton com bastante detalhes e destreza, preparando o leitor para o que seu protagonista se tornará no auge da carreira na Segunda Guerra. Um exemplo disso são as raízes racistas de Patton, fruto de sua educação sulista. Embora tenha sido mais tarde um defensor aguerrido da segregação racial nas Forças Armadas, quando jovem, em viagem pela Europa, defendeu um soldado negro – acusado de ter cometido um crime – do linchamento público; claramente, seu respeito pelo uniforme militar estava acima de quaisquer outros valores que tivesse.

Ao graduar-se em West Point, Patton perseguiu uma carreira na cavalaria, cujos rápidos desenvolvimentos da mecanização naquele período levariam à fama lendária dos blindados nos dois conflitos mundiais. Ávido pelo combate, Patton embarcou para o México em 1916 para perseguir o revolucionário Pancho Villa sob a tutela de seu protetor, General John Pershing. No ano seguinte, com a entrada dos EUA na Primeira Guerra Mundial e a nomeação de Pershing para o comando da Força Expedicionária Americana, Patton teve sua grande chance de conhecer a guerra em primeira mão.

Chegando à Inglaterra em maio de 1917, foi posto em contato com uma novidade chocante da arte da guerra: o veículo blindado, já então popularmente conhecido como tanque. Ao estudar suas capacidades, Patton se tornou um dos primeiros oficiais a enxergar seu verdadeiro potencial, especialmente quando pôde conferir com os próprios olhos o terrível desperdício de sangue que era a guerra de trincheiras.

Usando uma linguagem bastante didática, Bertonha mostra como essa marcante experiência moldou Patton e fez dele um comandante obcecado pelo movimento constante: ele vira o que uma guerra de posição pode acarretar.

Ao mesmo tempo, a pouca destreza política de Patton fez com que ficasse para trás em promoções quando comparado aos colegas de classe em West Point, como o promissor Dwight D. Eisenhower, que já no fim dos anos 1930 atingira prestígio invejável até mesmo dentro da Casa Branca.

Foi somente graças ao seu fantástico talento operacional para o comando direto de tropas que colocou Patton na primeira leva de generais americanos a entrar em combate, no Norte da África em 1942; e apesar de seu bom desempenho após a Batalha do Passo Kasserine, ele começa a mostrar o desgaste com escalões superiores e juniores, devido ao seu estilo notoriamente agressivo de liderar.

Bertonha descreve o Massacre de Biscari, ocorrido na Sicília em 1943 – quando homens da 45ª Divisão fuzilaram uma centena de prisioneiros alemães rendidos – recuperando a defesa de muitos dos acusados, que disseram ter-se achado no direito de assassinar após ter escutado os discursos motivadores de Patton, recheados de termos agressivos.

A inconstância política da carreira de Patton – que variava entre momentos de adoração e de repúdio por Washington – no entanto, não diminui o brilhantismo de seu comando do 3º Exército na França em 1944, quando quebrou os quase dois meses de impasse militar na Normandia, irrompendo país adentro com seus tanques, em tamanha velocidade que tiveram que parar por falta de combustível.

Seria muito da minha parte seguir adiante enumerando todos os feitos de George Patton na fase final da Segunda Guerra Mundial na Europa, e para tanto sugiro fortemente a leitura do livro. Suas 160 páginas são consumidas com uma rapidez que faz jus ao próprio protagonista, e no final deixam um gosto marcante de dever cumprido.

A biografia escrita por Bertonha ganha no fato de que esclarece as qualidades inegáveis de Patton, sem incorrer no tentador vício de idealizá-lo. Como disse o autor “Patton foi um excelente comandante, mas não era Deus”; uma forma muito adequada de trazer o General George Patton de volta ao mundo dos homens – o que na minha opinião só ajuda para percebermos o homem notável que ele foi.

Nota de Falecimento: Rui Moreira Lima

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Rui Moreira Lima
(12/06/1919 - 13/08/2013)

Faleceu no último dia 13 de agosto no Rio de Janeiro, de causas naturais aos 94 anos de idade, o veterano piloto do 1º Grupo de Aviação de Caça, Major-Brigadeiro-do-Ar Rui Barbosa Moreira Lima.

Nascido na pequena cidade de Colinas, no estado do Maranhão, Rui era filho do desembargador Bento Moreira Lima. Após completar os estudos, já no Rio de Janeiro, Rui ingressou em 1939 na Escola Militar do Realengo, como cadete do Exército. Neste período, vivenciou a intensa atividade política da capital federal, em meio à guerra mundial que estourara na Europa, provocando uma disputa por prestígio entre Alemanha e Estados Unidos junto ao governo brasileiro.

Com o alinhamento do Brasil aos EUA se consolidando a partir de 1941, e a crescente possibilidade de envolvimento nacional na Segunda Guerra Mundial, um novo conjunto de medidas foi tomado por Getúlio Vargas, entre elas a criação da Força Aérea Brasileira, como elemento armado independente, em dezembro de 1941. Rui, que ao graduar-se da Escola de Voo dos Afonsos passou a voar no Correio Aéreo Nacional, foi transferido para a nova FAB. O Brasil declarou guerra à Alemanha e Itália em agosto de 1942, colocando jovens pilotos como Rui Moreira Lima na primeira linha de defesa do país. Após diversas rodadas de negociação em Washington, foi determinada a criação de uma unidade de caça brasileira para atuação na frente de batalha na Europa: o 1º Grupo de Aviação de Caça. Vargas escolheu o então Tenente-Coronel Nero Moura como seu comandante, e Nero decidiu que todos os quadros da unidade seriam compostos por voluntários. Rui foi um dos primeiros a se voluntariar.

Enviados para o Panamá em março de 1944 para treinamento junto à USAAF, Moreira Lima aprendeu as novas táticas de voo em formação e combate nos comandos do Curtiss P-40 Warhawk, sendo declarado piloto de caça e enviado para os EUA para conhecer a aeronave em que voaria em combate: o Republic P-47 Thunderbolt. Em setembro, Rui e seus colegas foram transportados para a Itália, onde chegaram em 6 de outubro, sendo estacionados na base aérea de Tarquinia. No dia 6 de novembro, ele voou sua primeira missão operacional, como 4º elemento de uma formação do 346º Esquadrão de Caça, para atacar uma ponte na cidade de Levante. Ainda nervoso, Rui errou o alvo, que já havia sido acertado pelo Capitão Lagares: "Minha única preocupação era não perder meu líder de vista. Marquei um tento, além de ter entrado rapidamente em formação logo após o bombardeio, ainda pude controlar todas as bombas dos meus companheiros".

Com o passar dos dias e das missões, gradualmente o Tenente Rui foi se tornando um especialista em ataque ao solo. Claro, não sem que a guerra deixasse sua marca nele. Em 27 de dezembro de 1944, ele passou por uma experiência marcante: "Enquanto havíamos passado o jipe, os alemães entraram nele outra vez e rumaram para uma casa de dois andares próxima à estrada, quase na margem. Foi seu erro, pois justamente quando pararam o carro e desceram correndo, amontoando-se na porta da casa, estava eu com as oito .50 em boa distância para o tiro. Naturalmente, não mirei o jipe. Este, sem chofer, não andaria. A lenha foi grossa. Pela primeira vez, atirei num soldado". Ao retornar à base, Rui teve náuseas e sentiu-se mal por dias, até que a realidade da guerra assentasse.

No dia 11 de março de 1945, ao atacar a ponte de Casarsa, seu Thunderbolt D-4 levou um tiro de flak 20 mm diretamente no motor, iniciando um incêndio. Mesmo assim, Rui ainda atacou e destruiu a ponte, seguindo depois para o Adriático para tentar um salto. Já acima do mar, e pronto para deixar o avião, decidiu continuar o cockpit: "Eu fui para a FAB para ser piloto e não paraquedista". Direcionado para a pista de Forli, ele fez um pouso de barriga, sendo imediatamente socorrido por Frederick Charles Tate, oficial de ligação da RAF com a esquadrilha polonesa estacionada no local. Curiosamente, Tate era curitibano e falava português fluentemente, levando Rui para uma comemoração com os pilotos poloneses - regada a muito álcool. Levado de volta a Pisa ainda em coma alcoólico, Rui voltou a voar novamente no dia seguinte, um reflexo da escassez de pilotos pela qual passava o Senta a Pua na época.

Rui Moreira Lima, em parceria com outros colegas, escreveu o "Carnaval em Veneza", canção que hoje é um dos hinos da FAB, além da "Ópera do Danilo" - uma homenagem à épica fuga do Tenente Danilo Moura (irmão do Coronel Nero) do território ocupado pelos alemães após ser abatido. Rui realizou sua 94ª e última missão em 1 de maio de 1945, quando atacou um comboio alemão ao norte de Udine. A rendição das forças do Eixo no Teatro de Operações do Mediterrâneo se deu no dia seguinte. Imediatamente, ele foi um dos 19 pilotos escolhidos por Nero Moura para ir aos EUA buscar os novos P-47s adquiridos pelo Brasil para equipar o grupo de caça na Base Aérea de Santa Cruz.

Nas décadas seguintes, Rui ascendeu no oficialato da FAB e ocupou diversos cargos de importância, culminando no comando da Base Aérea de Santa Cruz em agosto de 1962, como Coronel. Na manhã de 1 de abril de 1964, recebeu informes de deslocamento de uma coluna armada pela estrada que liga MG ao RJ. Mesmo com tempo bastante encoberto, ele decolou num pequeno jato e, sendo orientado pelo radar do Galeão, resolveu fazer um mergulho pelas nuvens sobre a estrada. Em baixíssima altitude, Rui fez a recuperação logo acima da coluna armada do General Olímpio Mourão Filho, comandante da 4ª Divisão de Infantaria, que partia para ocupar a Guanabara. Rui pediu ordens para atacar a coluna, mas não recebeu autorização pelo comando da FAB. A consolidação da tomada de poder pelos militares no fim daquele dia colocou todo seu comando em xeque. Ele teve que passar o controle da base para um novo comandante e foi preso em seguida. Afastado do serviço ativo por sua não-colaboração, Rui começou a escrever a grande coleção de memórias que se tornaria a bíblia do grupo de caça na campanha da Itália, o livro "Senta a Pua!", lançado em 1989.

Com o fim do regime militar, ele teve restaurada sua patente para Major-Brigadeiro-do-Ar, e se tornou um símbolo do esforço brasileiro em combate na Segunda Guerra Mundial. Um dos recordistas de missões operacionais, exímio piloto, comandante exemplar e personalidade cativante, o Brigadeiro Rui participava ativamente da agenda da FAB, nas bases aéreas, Clube da Aeronáutica e no INCAER, do qual era patrono.

No começo de fevereiro de 2013 sofreu um AVC, que levou-o à internação e uma espantosamente rápida recuperação. Contudo, sua saúde mesmo assim fragilizou-se, e ele não mais participou de eventos públicos. Em junho, nova piora em seu quadro levou-o a nova internação, resultando num ataque cardíaco fatal na madrugada de 13 de agosto.

Com seu falecimento, o Brigadeiro José Carlos de Miranda Corrêa torna-se o último piloto da FAB ainda vivo a ter voado em combate na Segunda Guerra Mundial, além do Major John Buyers, da USAAF (que também voou voluntariamente 21 missões com o grupo). O Brigadeiro Rui Moreira Lima deixa esposa, Dona Julinha, e um filho, Pedro Luis.

Tive a felicidade de conhecer o Brigadeiro Rui Moreira Lima e conversar bastante com ele. Pode parecer que há algum exagero quando comentam da grandeza deste grande soldado brasileiro, mas posso garantir, pelas minhas próprias impressões, que não há exagero algum. O Brigadeiro Rui era lendário, personalidade ativa e impressionante, centralizava em si a responsabilidade de levar a história do 1º Grupo de Caça e sua herança adiante, carregando acima de tudo as cores do Brasil. Falei com ele pela última vez apenas 3 dias antes de seu AVC em fevereiro, justamente para combinar os detalhes da minha ida ao RJ para as comemorações do Dia Nacional da Aviação de Caça. As comemorações deste ano perderam um pouco de seu brilho sem a presença dele, todos sentimos isso, mas exatamente por honra à sua imortal figura, o brilho do Senta a Pua nunca deve se apagar!

Um glorioso Adelphi! Vá em paz Brigadeiro Rui!

Com o Brigadeiro Rui no almoço dos veteranos do Senta a Pua. Rio de Janeiro, 21 de abril de 2012.

Rui despede-se de Julinha ao embarcar para o Panamá em março de 1944.

Tenentes Rui, Torres e Goulart na Base Aérea de Pisa.

Coronel Rui (frente, à direita), quando comandava a Base Aérea de Santa Cruz.

Brigadeiro Rui e Dona Julinha na Base Aérea de Santa Cruz, 22 de abril de 2012.

Republic P-47 Thunderbolt "Poderoso", de Rui Moreira Lima. 1º Grupo de Caça, Pisa, Itália, abril de 1945.

Nota de Falecimento: Hans Ekkehard Bob

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Hans Ekkehard Bob
(24/01/1917 - 12/08/2013)

Faleceu no último dia 12 de agosto em Freiburg, Alemanha, de causas naturais aos 96 anos de idade, o ganhador da Cruz do Cavaleiro, Major Hans Ekkehard Bob.

Nascido em Freiburg, Bob juntou-se à Luftwaffe em dezembro de 1936, e após seis meses de treinamento militar básico, iniciou as lições de voo em 1 de junho de 1937. Após completar o curso de formação de oficiais, foi designado para o Jagdfliegergruppe 133 em Wiesbaden. Foi com esta unidade que ele voou suas primeiras missões operacionais, à bordo de um biplano Arado Ar 68 durante a ocupação dos Sudetos em outubro daquele ano. Em junho de 1939, Bob foi transferido para a 3./JG 21 em Jesau, agora voando o eficiente Messerschmitt Me 109.

Bob iniciou suas missões de guerra em setembro de 1939 contra a Polônia, mas conseguiu sua primeira vitória apenas em 10 de maio de 1940, no primeiro dia de ação contra a França, Holanda e Bélgica. Naquele dia, ele derrubou um Gloster Gladiator sobre a cidade belga de Tongeren. Sua quinta vitória foi atingida em 26 de junho contra um bombardeiro inglês Bristol Blenheim sobre Roterdã, na Holanda, fazendo dele um ás. Promovido a Oberleutnant em 1 de agosto, Bob iniciou o intenso combate contra a RAF durante a Batalha da Inglaterra. Atravessando o Canal da Mancha nos comandos do Me 109, ele derrubou 9 Spitfires e 5 Hurricanes em dois meses de ação intensa, recebendo o comando da 9ª Staffel do Jagdgeschwader 54 "Grünherz" em 28 de novembro. Esta esquadrilha foi uma das primeiras convertidas para o padrão Jagdbomber (Jabo - "caça-bombardeiro"), passando a atacar a navegação inglesa com bombas de 250 kg. Contando com 19 vitórias aéreas e um excelente retrospecto de líder de Jabos, Hans-Ekkehard Bob foi condecorado com a Cruz do Cavaleiro da Cruz de Ferro em 21 de março de 1941.

Em abril de 1941, durante a Campanha dos Bálcãs, Bob atingiu sua 20ª vitória contra um adversário curioso: um Messerschmitt Me 109 iugoslavo, vendido pela Alemanha ao país um pouco antes do golpe de estado pró-britânico que motivou sua invasão. Após a conclusão dos combates, o JG 54 foi levado para aeródromos na Prússia Oriental, em preparação para a invasão da União Soviética. Em 23 de junho de 1941 - segundo dia da Barbarossa - Bob derrubou um bombardeiro Tupolev SB-2, mas recebeu fogo defensivo da aeronave e fez um pouso forçado atrás das linhas soviéticas. Entretanto, conseguiu evitar a captura e atingiu as linhas alemãs dois dias depois. Até o fim do ano, ele já havia registrado 39 vitórias, e em 29 de setembro de 1942, marcou sua 50ª vitória, sendo agraciado com a Cruz Alemã em Ouro.

Em fevereiro de 1943, por ordem de Adolf Galland, o III Gruppe do JG 54 foi transferido para o ocidente. Desta maneira, Bob passou a enfrentar as ondas de bombardeiros da USAAF. Em 17 de abril, o Hauptmann Bob ousadamente abalroou um Boeing B-17 Flying Fortress, levando-o abaixo sobre Bremen, mas ferindo-se no salto de paraquedas. Promovido a Major em agosto, ele recebeu o comando do IV./JG 51 no front leste, marcando suas últimas vitórias, contra dois Mikoyan-Gurevich MiG-3 sobre Apostolovo, na Ucrânia.

De volta ao ocidente em maio de 1944, Bob foi um dos primeiros pilotos a receber treinamento no revolucionário caça a jato Messerschmitt Me 262 a partir de agosto. No começo de 1945, foi transferido para o estado-maior do General Josef Kammhuber, comandante da caça noturna. Seu trabalho era supervisionar o treinamento de conversão de pilotos de bombardeio para o Me 262 caça-bombardeiro. Pouco antes do fim da guerra, Bob foi transferido para o Jagdverband 44, a unidade de caça a jato de elite, comandada por Adolf Galland. Hans Ekkehard Bob terminou a Segunda Guerra Mundial tendo voado mais de 700 missões de combate, nas quais registrou 60 vitórias aéreas confirmadas.

Ele retornou à vida civil como agricultor, fundando sua própria empresa de transporte em 1946. Em 1956, Bob fundou a BOMAG (Bohrmaschinen und Geräte GmbH), uma empresa de equipamentos de perfuração sediada em Celle, com a qual fez fortuna em negócios com mais de 120 países. Ávido participante de eventos de aviação e piloto até os 90 anos de idade, Bob era um dos mais celebrados ases da Luftwaffe nesses últimos anos, participando de diversos documentários da BBC. Quando outro colega ganhador da Cruz do Cavaleiro, Kurt Bischof, fez 80 anos de idade, foi Bob quem o levou para seu primeiro voo, à bordo de seu monomotor no Aeroclube de Celle.

Hans Ekkehard Bob escreveu duas biografias: "Betrayed Ideals - Memoirs of a Luftwaffe Fighter Ace" em 2003 e "Jagdgeschwader 54 - Die Piloten mit dem grünen Herzen" em 2011. Ele deixa esposa e seis filhos.

Meus agradecimentos ao amigo Richard Schmidt pela ajuda.

Com Hans Ekkehard Bob durante o Fliegertreffen 2009 em Friedrichroda, Alemanha.

No cockpit do Me 109 durante a Batalha da Inglaterra.

Bob no aeródromo de Beauvis, na França.

Bob e o produtor inglês James Holland, durante as filmagens do documentário "Battle of Britain: The Real Story".

Me 109F de Hans Ekkehard Bob. 9./JG 54, Siverskaya, URSS, inverno de 1942.

U-Boats: Mergulhando na História

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...ajoelhar-se na areia branca do fundo do mar, escutando somente o chiado da nossa respiração, em silencioso respeito e observar aquele elegante casco, mesmo desmantelado por uma morte violenta, é ser tomado por uma grande emoção. E eu senti isto...

Realmente uma visão majestosa, intimidadora para muitos, carregada de sentimentos tão variados quanto profundos, mas que certamente culminam na contemplação. Uma das armas de guerra mais desenvolvidas de sua época, que cobrou preços altíssimos aos seus inimigos e estendeu o poder militar do Terceiro Reich por todo o planeta – agora calmamente eternizada no leito dos oceanos.

Acredite se quiser, um brasileiro passou as últimas décadas percorrendo o mundo para conhecer esses monstros de aço mortalmente feridos, apaixonado desde a infância pelas histórias da guerra naval e seus protagonistas. Conheceu mais de perto do que qualquer outra pessoa aqui no nosso país o verdadeiro mundo dos U-Boats, os submarinos alemães da Segunda Guerra Mundial.

Contudo, para o leitor da Sala de Guerra, este aventureiro não é nem um pouco estranho, pois trata-se do nosso colunista Nestor Magalhães. Quem já leu as crônicas dele aqui, sabe que o Nestor é um mergulhador profissional, que roda o mundo atrás de destroços submersos da Segunda Guerra, nos brindando sempre com histórias únicas e imagens espetaculares.

Pois é exatamente isso que ele nos conta em “U-Boats: Mergulhando na História” (Redes Editora, 272 páginas), um relato de sua série de mergulhos pelo mundo, para conhecer os lobos cinzentos da Kriegsmarine.

Se a natureza da missão já é singular, o mesmo pode ser dito da escrita da obra, construída em tom leve e apaixonante, ricamente ilustrada e referenciada com curiosidades históricas do maior conflito mundial. Ao chegar à França para mergulhar a caça de um submarino, o leitor viaja junto com Nestor pelas praias da Normandia, seus museus e locais famosos. Não há como largar a leitura!

E quem já leu as histórias do Nestor sabe que ele, melhor do que ninguém, sabe se meter “em altas confusões” no melhor estilo Sessão da Tarde – casos que ele faz questão de entremear na narrativa. Sua “visita” ao U-171, na costa francesa, já foi resumidamente compartilhada aqui na Sala de Guerra, e dá um perfeito exemplo do que estou dizendo! No livro, com a narrativa expandida, muitos outros momentos impagáveis aparecem.

Nestor: o intrépido brasileiro caçador de U-Boats.

A guerra submarina alemã entre 1939-1945, particularmente a Batalha do Atlântico, conheceu momentos de grande sucesso para os caçadores, bem como momentos de extremas dificuldades – quando passaram a ser a caça. Nunca na história outra força teve uma taxa de baixas tão grande, chegando perto dos 75%, mas nunca faltaram-lhe voluntários. A tática da “alcateia”, divisada pelo Almirante Karl Doenitz, colocou em xeque a navegação Aliada nos primeiros anos do conflito, sendo somente vencida por uma guerra tecnológica de intensidade fantástica, que dedicou esforços hercúleos para desenvolver ferramentas que especificamente localizassem e destruíssem os U-Boats.

Essa é uma das razões pela qual a história da guerra submarina é tão apaixonante, e o Nestor faz um excelente trabalho ao transpor para seu livro, de maneira bastante fácil para o leitor, enquanto descreve os submarinos afundados, como se deram os progressos tecnológicos dos Aliados e dos alemães.

Se antes você enxergava um submarino afundado apenas como um monte de metal retorcido, tenho certeza de que sairá desta leitura sabendo pormenores e detalhes técnicos que nem imaginava um dia conhecer! Além, é claro, de fazer uma bela viagem ao redor do mundo com o Nestor, sempre na trilha dos misteriosos e temidos U-Boats.

Adquira sua Edição Especial de "U-Boats: Mergulhando na História" diretamente com o autor, através do e-mail ulissess18@yahoo.com.br. Você receberá o exemplar autografado em sua casa, via postal. O preço da edição é de R$ 42,00.

O chocante uso de armas químicas por Churchill em 1919

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Churchill discursa na fábrica de munição de Ponders End, 1916.

O uso de armas químicas na Síria chocou o mundo. Mas é fácil esquecer que países como a Grã-Bretanha já as usaram – e que Winston Churchillfoi um eloquente advogado de seu uso.

O segredo era imperativo. O Estado-Maior britânico sabia que haveria ultraje público se se soubesse que o governo pretendia utilizar seu estoque de armas químicas. Mas Winston Churchill, então Secretário de Estado para a Guerra, descartou essas preocupações. Há muito tempo um entusiasta da guerra química, ele estava determinado a usar essas armas contra os bolcheviques russos.

No verão de 1919, 94 anos antes do devastador ataque na Síria, Churchill planejou e executou um ataque químico sustentado no norte da Rússia.

Os britânicos não eram iniciantes no uso de armas químicas. Durante a Terceira Batalha de Gaza em 1917, o General Edmund Allenby disparou 10 mil recipientes de gás asfixiante contra posições inimigas, com pouco efeito prático. Mas nos meses finais da guerra, cientistas do laboratório governamental em Porton, Wiltshire, desenvolveram uma arma muito mais devastadora: o ultra-secreto “Dispositivo M” – uma cápsula explosiva que continha um gás altamente tóxico chamado difenilaminacloroarsina. O responsável pelo projeto, Major-General Charles Foulkes, chamou-a de “a mais eficiente arma química já desenvolvida”.

Testes em Porton mostraram que realmente era uma arma terrível. Vômito incontrolável, tosse de sangue e cansaço instantâneo e absoluto eram as reações mais comuns. O diretor-geral de produção de armas químicas, Sir Keith Price, estava convencido de que seu uso levaria ao imediato colapso do regime bolchevique: “Se usarmos o gás apenas uma vez, não encontraremos mais nenhum comunista a oeste do Vologda”.

O governo não era favorável ao uso dessas armas, para a irritação de Churchill. Ele também sugeriu o uso do Dispositivo M contra tribos rebeldes do norte da Índia. “Sou extremamente a favor do uso de gás venenoso contra essas tribos selvagens”, ele declarou em um memorando secreto.

Churchill criticou seus colegas por sua “má vontade”, declarando que “as objeções da Secretaria da Índia ao uso de gás contra os nativos é absurda. Gás é uma arma muito mais humana do que um projétil de alto-explosivo, e convence o inimigo a aceitar a derrota com uma perda de vidas bem menor do que qualquer outro tipo de guerra”.

Ele encerra seu memorando com uma nota de humor negro. “Por que não é válido que um artilheiro britânico dispare uma cápsula que faça os nativos espirrarem?”, ele pergunta. “É realmente uma grande bobagem”.

Um impressionante número de 5 mil Dispositivos M foram enviados para a Rússia: ataques aéreos britânicos com a arma começaram em 27 de agosto de 1919, tendo como alvo o vilarejo de Emtsa, cerca de 200 km a sul de Arkhangelsk. Soldados bolcheviques foram vistos fugindo em pânico enquanto o gás esverdeado lentamente flutuava em sua direção. Aqueles pegos pela nuvem vomitaram sangue e caíram inconscientes.

Os ataques continuaram em setembro em muitas outras vilas ocupadas pelos comunistas: Chunova, Vikhtova, Pocha, Chorga, Tavoigor e Zapolki. Mas as armas se provaram menos eficientes do que Churchill esperava, parcialmente por causa do clima úmido de outono.

Em setembro os ataques foram suspensos e depois cancelados. Duas semanas mais tarde as últimas armas foram despejadas no Mar Branco. Elas permanecem no leito do mar até hoje. 

Fonte: The Guardian, 1 de setembro de 2013.

Nota de Falecimento: Rochus Misch

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Rochus Misch
(29/07/1917 - 05/09/2013)

Faleceu no último dia 5 de setembro em Berlim, Alemanha, de causas naturais aos 96 anos de idade, o segurança de Adolf Hitler e último sobrevivente do Führerbunker, SS-Oberscharführer Rochus Misch.

Nascido em Alt Schalkowitz, na Silésia, seu pai morreu em combate na Primeira Guerra, antes do nascimento do filho. Misch ficou órfão de mãe aos 2 anos de idade e passou a ser criado pelos avós. Após terminar os estudos, trabalhou como pintor e ilustrador, e aos 20 anos de idade, alistou-se na SS-Verfügungstruppe (SS-VT, precursora da Waffen-SS). Participou das anexações da Áustria e dos Sudetos, entrando em combate logo no primeiro dia da Segunda Guerra Mundial.

Em setembro de 1939, a SS-VT foi anexada às tropas do exército e acabou sendo empregada contra as forças polonesas cercadas dentro da Fortaleza de Modlin. Os poloneses resistiram por vários dias aos repetidos ataques alemães, e uma tentativa de conseguir a rendição foi feita, sendo Misch escolhido para negociar, visto que falava polonês. Durante a conversa, ele acabou recebendo um tiro pelas costas que perfurou-lhe o pulmão, sendo recolhido ferido e levado a um hospital. Seu comandante de companhia, ao saber que Misch era o último representante de sua família, resolveu recomendá-lo para o Führerbegleitkommando (SS-FBK), a unidade de escolta permanente de Hitler, por ser um serviço longe da linha de frente. Dessa forma, Misch foi transferido para a 1ª Divisão Leibstandarte-SS Adolf Hitler (LSSAH).

Apresentando-se para serviço em maio de 1940, Misch passou a trabalhar como guarda-costas, mensageiro e telefonista de Hitler, constantemente presente em suas viagens, no quartel-general na Prússia Oriental, no Berghof e na Chancelaria do Reich em Berlim. Misch considerava Hitler "um ótimo chefe; trabalhei com ele por cinco anos, e éramos as pessoas mais próximas dele". Quando casou-se em 1942, Hitler enviou-lhe de presente uma caixa de champagnes franceses. Em 20 de julho de 1944, durante a tentativa de assassinato contra Hitler, Misch estava de folga em Berlim, e testemunhou a intensa atividade de tropas pró-golpe e a reação do Major Otto Ernst Remer para sufocar a tentativa. À medida em que a guerra se deteriorava, as viagens de Hitler diminuíam, e em janeiro de 1945 ele se recolheu ao bunker anexado à Chancelaria, sendo acompanhado por Misch e o restante de seu séquito. Dentro do bunker, ele e o colega Johannes Hentschel dividiram tarefas: "Hentschel era o responsável pelas luzes, ar e água, e eu operava os telefones - não havia mais ninguém. Quando alguém descia lá embaixo, não podíamos nem oferecer uma cadeira para sentar-se, pois era tudo muito apertado".

Quando o cerco soviético fechou-se à capital no final de abril, Misch testemunhou os últimos e desesperados momentos da elite do Terceiro Reich, com generais e outros líderes em constante entrada e saída do recinto, em busca de uma rota de fuga de Berlim. Na tarde de 30 de abril, Misch foi um dos primeiros a ver os corpos de Hitler e Eva Braun pouco após o casal suicidar-se em seu quarto privativo. Ele viu também os corpos dos seis filhos de Josef Goebbels, envenenados pela mãe, Magda, pouco antes do próprio casal também suicidar-se. Misch deixou o bunker em 2 de maio, mas foi capturado por soldados soviéticos pouco depois. Levado à prisão de Butirka, em Moscou, ele foi torturado pelo NKVD, que buscava informações sobre o "verdadeiro paradeiro de Hitler". Misch passou oito anos em cativeiro, sendo libertado em 1953.

Após sua libertação, ele trabalhou numa variedade de empregos, desde guarda-costas até motorista, até que conseguiu comprar uma pequena loja de tintas, a qual gerenciou com sucesso até sua aposentadoria. Classificado como um homem simples que foi jogado no centro de um marcante processo histórico, Misch raramente era foco da imprensa até 2003, quando o último ajudante de Hitler, Otto Günsche, faleceu. A partir de então, Misch era a última pessoa viva a ter trabalhando efetivamente junto ao Führer, e tornou-se protagonista de diversos documentários, sendo também consultor histórico do roteirista Christopher McQuarrie, do filme "Operação Valquíria", de 2008.

Já viúvo, Misch lançou sua autobiografia "Der Letzte Zeuge", em 2008. Uma entrevista feita com ele pelo jornalista francês Nicolas Bourcier em 2004 foi publicada no Brasil com o título "Eu fui guarda-costas de Hitler". Com a morte de Siegfried Knappe em 2008, ele se tornou o último sobrevivente do Führerbunker, automaticamente fazendo dele uma personalidade. Misch recebia imensa quantidade de cartas de todo o mundo, fato que levou-o a anunciar que não mais responderia as correspondências a partir de 2010, dada sua idade avançada e o fato de morar sozinho.

Desde 2012 sua saúde decaiu sensivelmente. Em agosto de 2013 ele sofreu um ataque cardíaco que fragilizou ainda mais o seu quadro, levando-o ao falecimento num hospital de Berlim. Com sua morte, fecha-se o capítulo histórico do bunker de Hitler nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial.

Em outubro de 2011, acompanhado dos amigos Gilberto Ziebarth e Roberto Soares, visitei Rochus Misch em Berlim. Ele nos recebeu em sua sala de estar, conversou um pouco conosco e autografou nossos livros. Misch mostrou-se surpreso em receber brasileiros em sua casa, mas disse que gente do mundo todo ia vê-lo - os últimos haviam sido sul-coreanos. Sorriu bastante e contou piadas de futebol, despedindo-se em seguida. Nos sentimos sortudos por ter tido a chance de conhecer um personagem que testemunhou a história sendo feita.

Descanse em paz.

Com Rochus Misch em Berlim, 10 de outubro de 2011.



No dia de seu casamento, com a esposa Gerda, 1942.

Misch em casa, com seus arquivos.

Rochus Misch.

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